Questão
2024
INSTITUTO CONSULPLAN
Prefeitura Municipal de Pouso Alegre (MG)
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As três bonecas 

Ju morava numa rua tranquila com nome de heroína: Anita Garibaldi. Dali, das amigas da mãe, guarda boas lembranças: colos, cafunés, filhos, mimos, conselhos e broncas. Uma, ao ver Ju lavando alface como quem esfrega roupa, havia lhe ensinado a delicadeza das folhas. Outra, Marieta, lhe deixou uma lição. Numa visita, aproximou-se de Ju, que brincava de bonecas. E disse: 

– Tenho uma boneca pra você! 

Um forte desejo se acendeu na menina. 

– Grande, como um bebê! Cabelos claros e curtos. Enroladinhos. 

A menina sorriu. Mais tarde, folheando uma revista, adivinhou a boneca. 

– É assim! – disse, abraçada à revista. 

Deu-lhe o nome de Cecília. Chamaria as amigas, cada uma traria sua filha e fariam um lanche. Brincariam no jardim e ririam um bocado, até tarde. Cansadas, iriam cedo pra cama. Adormecer com Cecília seria melhor que mil mundos. 

Foi uma espera em vão. Ainda lidava com a frustração, quando a mulher retornou. A claridade, que vinha do corredor, marcava a comprida silhueta que entrou falando: 

– Tua boneca está lá guardada, esperando.

“Esperando o quê?”. 

– Podia ter trazido. Comprei outra. 

“Agora são duas bonecas!”, empolgou-se. 

A mulher continuava: 

– É moreninha, bem escura, cabelos compridos, arrumados em trança até a cintura. “Seria cor de jabuticaba?” Ju amava. Imaginou a boneca. “Será de pano? Fofa? Tem pano que tem cheiro bom, fino e macio, gostoso de pegar. Tem pano que é mais duro e pinica… Carmela!” Agora, numa só festa, apresentaria Cecília e Carmela às amigas. Já as via juntas, duas irmãs, cada uma de uma cor. 

“Mas por que ela não trouxe logo as bonecas?”; “Vai ver que ela não sabia que ia passar aqui.”; “Vai ver que, outro dia, traz as duas.”; “Vai ver que…”; “vai ver…” Pensou durante a aula, em casa e antes de dormir. 

Sonhou com Cecília e Carmela. Andaram de roda gigante, tão alto… Tocando as nuvens, Ju pegou um pedaço e experimentou. Azeda demais! Torceu o nariz, as outras riram. Ao acordar, procurou as bonecas e não achou. Onde estavam? Embaixo da cama? Dentro do armário? Na gaveta? Ou na casa de Marieta? Será que ela entregou para depois sequestrá-las? Se ela ia tirar, pra quê iria dar? Além de tudo, era amiga da mãe, por que faria isso? Só se a mãe não soubesse quem era a verdadeira Marieta… 

Meses depois, ela chegou. A boneca não, Marieta! E falou pela terceira vez: 

– Tenho outra boneca pra você. Podia ter trazido. 

“Três? Sério?” 

Daqui a pouco, só um reboque pra tanta promessa. Ju não se deixou enrolar. Um dia, fantasiou com Anita. Com nome de guerreira, lutaria, salvaria todas do cativeiro. A essa altura, era o que pensava: cativeiro. 

Volta e meia, acontecia de sonhar com as três. Faziam estripulias, criavam brincadeiras e danças malucas e rolavam de rir. Um dia, Ju rolou pro chão mesmo. Doeu cotovelo, doeu bumbum, doeu tudo! Até a alma. 

O tempo passou, tanto e mais um tico. Ju cresceu e se mudou da Rua Anita Garibaldi. De Marieta, ficou a lição: heroína mesmo era a criança que sobrevivia a certos adultos… 

(Crônicas da infância: lembranças, afetos e reflexões [livro eletrônico] / organização Rosana Rios, Flávia Côrtes, Severino Rodrigues; ilustração Sandra Ronca. 1. ed. São Paulo: Edições AEILIJ: RR Literatura, 2021. PDF. Vários autores.)

Considere as reproduções a seguir de trechos do texto e seus respectivos verbos sublinhados. É correto afirmar que, em todas as afirmativas, os verbos sublinhados estão conjugados no mesmo tempo verbal, EXCETO: 

A
“A mulher continuava:” (13º§). 
B
“Cansadas, iriam cedo pra cama.” (7º§).
C
“Tenho outra boneca pra você. Podia ter trazido.” (18º§).
D
“[...] heroína mesmo era a criança que sobrevivia a certos adultos…” (22º§).