Os textos a seguir revelam uma preocupação acerca do papel da escola contemporânea. Leia-os com atenção.
TEXTO I
O Texto I é um fragmento de uma entrevista com António Nóvoa, reitor da Universidade de Lisboa, em que ele discorre sobre os rumos da escola contemporânea.
Qual é o principal desafio de um gestor escolar atualmente?
NÓVOA ─ Acredito que é decidir o que é essencial ensinar aos alunos e garantir que as disciplinas elementares não sejam prejudicadas pela avalanche de conteúdos que são propostos atualmente. Hoje, a equipe docente se ocupa da Educação Ambiental, alimentar e comportamental e com programas de prevenção a AIDS, acidentes de trânsito e violência sexual. Todos muito importantes, mas que não são responsabilidade da escola. Ao tentar colocar tudo no mesmo pote, falta espaço para o básico.
Como saber o que é essencial?
NÓVOA ─ Há um pensamento notável de Olivier Reboul, filósofo francês (1925-1992). Ele diz que deve ser ensinado na escola tudo o que une e tudo o que liberta. O que une é aquilo que integra cada indivíduo num espaço de cultura, em determinada comunidade: a Língua, as Artes Plásticas, a Música, a História, etc. Já o que liberta é o que promove a aquisição do conhecimento, o despertar do espírito científico, a capacidade de julgamento próprio. Estão nessa categoria a Matemática, as Ciências, a Filosofia, etc. Com base nesse princípio, podemos selecionar o que é mais importante e o que é acessório na Educação das crianças.
[...]
A menor presença dos conteúdos sociais garante a qualidade do ensino?
NÓVOA ─ Garante que os conteúdos essenciais tenham mais tempo para ser ensinados pelo professor. Porém a qualidade do trabalho didático depende fundamentalmente da existência de bons professores. Nos anos 1970, demos muita importância à racionalização, planificação e avaliação do ensino, à procura de fórmulas racionais, que deveriam orientar nossa ação. Na década seguinte, focamos as reformas dos programas e dos currículos. Em seguida, voltamos nossas atenções à administração e gestão das escolas. Por esse caminho, alimentávamos a ilusão de que as novas tecnologias resolveriam todos os problemas. Agora, neste início do século 21, começamos a compreender que nada consegue substituir um bom professor. Os educadores competentes valem muito mais do que qualquer técnica, método ou teoria. A equipe gestora deve dar toda a atenção a isso se quiser construir uma escola melhor. [...]
In: Nova Escola, no 8, jun. / jul. 2010. (Adaptado)
TEXTO II
O Texto II é um fragmento de uma crônica de Rubem Alves sobre a Escola da Ponte, escola pública que desenvolve uma proposta alternativa de educação no Distrito do Porto, em Portugal.
A ESCOLA DA PONTE
[...]
Na Escola da Ponte o mais importante que se ensina é esse espaço. Nas nossas escolas: salas separadas; o que se ensina é que a vida é cheia de espaços estanques. Turmas separadas e hierarquizadas: o que se ensina é que a vida é feita de grupos sociais separados, uns em cima dos outros. Consequência prática: a competição entre as turmas, competição que chega à violência (os trotes!). Saberes ministrados em tempo definidos, um após o outro: o que se ensina é que os saberes são compartimentos estanques (e depois reclamam que os alunos não conseguem integrar o conhecimento. Apelam então para a “transdisciplinaridade”, para corrigir o estrago feito [...]).
Escola da Ponte: um único espaço, partilhado por todos, sem separação por turmas, sem campainhas anunciando o fim de uma disciplina e o início de outra. A lição social: todos partilhamos de um mesmo mundo. Pequenos e grandes são companheiros numa mesma aventura. Todos se ajudam. Não há competição. Há cooperação. Ao ritmo da vida: os saberes da vida não seguem programas. [...] E assim vão as crianças aprendendo as regras da convivência democrática, sem que elas constem de um programa...
Disponível em: http://www.rubemalves.com.br/escoladaponte6.htm Acesso em: 18 jun. 2000.
TEXTO III
O Texto III é um fragmento dos Parâmetros Curriculares Nacionais, os PCN.
ESCOLA: UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA E PERMANENTE
Nessa perspectiva, é essencial a vinculação da escola com as questões sociais e com os valores democráticos, não só do ponto de vista da seleção e tratamento dos conteúdos, como também da própria organização escolar. As normas de funcionamento e os valores, implícitos e explícitos, que regem a atuação das pessoas na escola são determinantes da qualidade do ensino, interferindo de maneira significativa sobre a formação dos alunos.
Com a degradação do sistema educacional brasileiro, pode-se dizer que a maioria das escolas tende a ser apenas um local de trabalho individualizado e não uma organização com objetivos próprios, elaborados e manifestados pela ação coordenada de seus diversos profissionais.
Para ser uma organização eficaz no cumprimento de propósitos estabelecidos em conjunto por professores, coordenadores e diretor, e garantir a formação coerente de seus alunos ao longo da escolaridade obrigatória, é imprescindível que cada escola discuta e construa seu projeto educativo.
Esse projeto deve ser entendido como um processo que inclui a formulação de metas e meios, segundo a particularidade de cada escola, por meio da criação e da valorização de rotinas de trabalho pedagógico em grupo e da corresponsabilidade de todos os membros da comunidade escolar, para além do planejamento de início de ano ou dos períodos de “reciclagem”.
A experiência acumulada por seus profissionais é naturalmente a base para a reflexão e a elaboração do projeto educativo de uma escola. Além desse repertório, outras fontes importantes para a definição de um projeto educativo são os currículos locais, a bibliografia especializada, o contato com outras experiências educacionais, assim como os Parâmetros Curriculares Nacionais, que formulam questões essenciais sobre o que, como e quando ensinar, constituindo um referencial significativo e atualizado sobre a função da escola, a importância dos conteúdos e o tratamento a ser dado a eles.
Parâmetros Curriculares Nacionais. Disponível em: http://portal.mec.gov.br Acesso em: 20 set. 2010.
Com base na leitura dos textos, elabore um texto em prosa, de caráter dissertativo-argumentativo, com o mínimo de 20 e o máximo de 25 linhas, sobre o seguinte tema:
À Escola o que é da Escola.
Os textos-base servem, apenas, para sua reflexão, não podendo ser transcrita qualquer passagem dos mesmos.
Dê um título à sua redação.
Redações com menos de 7 linhas serão consideradas em branco.