Uma revolução a galope
Existiam 11 mil táxis em Londres na virada do século 19 para o 20. Todos pretos e elegantes, iguais aos de hoje. Só o motor que era diferente. Todos eram puxados por cavalos. Também tinha ônibus a cavalo. Cada um demandava 12 equinos por dia.
O transporte público equino mais as carroças e carruagens particulares resultavam numa população de 50 mil cavalos circulando pelo centro da capital britânica todos os dias. Valia o mesmo para todas as grandes cidades.
O toque dos cascos contra os paralelepípedos era o som característico das metrópoles. Uma sinfonia de “toc, toc, toc” vinda de todos os lados. Talvez tivesse o seu charme. Menos agradável era o produto do escapamento dos nossos garbosos amigos.
Cada cavalo produz 10 quilos de esterco por dia, o que garantia a Londres sozinha um pavimento constante de dejetos renovado a uma taxa de 500 toneladas a cada 24 horas.
Em 1894, o alemão Karl Benz lançava o primeiro carro com motor a combustão interna e produção em larga escala: o Benz Velo. Em 1903, um engenheiro de Detroit chamado Henry emularia Benz ao criar uma empresa com o seu sobrenome, a Ford, voltada a tornar carros tão baratos quanto carroças. Pronto: em relativamente pouco tempo, o esterco deixaria de ser um problema. Mas, claro, vieram outros. O escapamento das máquinas de Karl Benz, Henry Ford e cia revelaria-se ainda mais pernicioso que o dos cavalos.
Os catalisadores, que reduzem brutalmente a emissão de monóxido de carbono, ajudariam mais tarde a baixar a poluição das cidades para níveis menos intoleráveis. Mas as leis da física não permitem filtrar do escape outro subproduto da combustão, ainda mais danoso, o dióxido de carbono. E não dá mais para brincar com o clima. Logo, a transição para os carros elétricos é inevitável.
(Editorial. Revista Superinteressante. Edição 430. Agosto 2021)
O termo destacado na frase do penúltimo parágrafo – O escapamento das máquinas de Karl Benz, Henry Ford e cia revelaria-se ainda mais pernicioso... – tem sentido equivalente ao do termo destacado em: