O que é a convergência linguística?
Laura Plitt
Não importa de onde você vem ou qual seu sotaque. Se você viajar para outro Estado, é muito provável que seu sotaque comece a ficar mais parecido com o jeito de falar local.
Para algumas pessoas, esse mimetismo acontece imediatamente — e sem querer — ao começar a conversar com uma pessoa de sotaque diferente, sem nem ao menos precisar viajar. Enquanto o jeito de falar da pessoa muda, o interlocutor pode ficar com a leve suspeita de que estão tirando sarro dele.
Mas a verdade é que quem imita sotaques inconscientemente provavelmente está sob o efeito de um fenômeno chamado convergência linguística — algo que, em menor ou maior grau, acontece com todos.
"Quando nos referimos à mudança de sotaque, à maneira como pronunciamos certas palavras, estamos falando de convergência fonética", explica Zuzana Erdösová, professora de linguística da Universidade Autônoma do Estado do México.
Mas, em geral, "não é apenas o sotaque que acabamos imitando quando ouvimos outras pessoas falarem, mas também adotamos seu léxico. Ou seja, as palavras típicas de um determinado grupo ou de uma determinada região."
Essa incorporação dos termos usados pelo outro, da forma como uma frase é articulada é o que chamamos de convergência linguística. Enquanto a imitação do sotaque tende a ser um ato inconsciente, a adoção da estrutura gramatical (como usar a forma ativa ou passiva de um verbo, por exemplo) e o vocabulário que nosso interlocutor usa tende a ser uma escolha.
Por quê?
As razões para a mudança de discurso são várias. Uma das razões está ligada à aceitação social, explica Erdösová.
"Dentro de cada sociedade prevalecem certas relações e hierarquias. Pessoas com maior consciência disso adaptam seu discurso para alcançar a aceitação."
"Se decido convergir com a forma como o outro fala, é porque busco integração e certo vínculo identitário", diz a pesquisadora.
Enquanto se fizer o contrário — o que se chama de divergência linguística — você está conscientemente marcando uma distância social entre si e o seu interlocutor.
Lacy Wade, professora de linguística da Universidade da Pensilvânia, concorda que as pessoas, consciente ou inconscientemente, mudam sua fala para mostrar proximidade com a outra pessoa.
"É uma maneira de dizer, 'Ei, eu sou como você!' É uma maneira de mostrar que você gosta da pessoa ou que quer que ela goste de você", afirma. "Mesmo que muitas vezes o fenômeno passe despercebido e não percebamos que estamos agindo assim, isso não significa que não seja um gesto socialmente motivado".
Ela explica que às vezes as pessoas percebem que estão mudando a maneira de falar no momento em que o fazem e depois continuam por notar um benefício social positivo.
Outra razão para a convergência está ligada ao nosso desejo de diálogo.
"Nós nos comunicamos melhor quando estamos em sincronia, quando usamos as mesmas palavras, porque entendemos melhor alguém que soa como nós", explica Wade. A sensação de falar "na mesma língua" nos ajuda a melhorar a interação.
Além disso, diz ela, a convergência é uma consequência cognitiva automática da compreensão da linguagem.
"Há pesquisas que indicam que, quando ouvimos alguém falar, armazenamos esses sons em nossa memória e esses sons influenciam nossa própria fala."
Curiosamente, também acontece que às vezes modificamos nossa maneira de falar não de acordo com o que ouvimos, necessariamente, mas com base em nossas expectativas sobre o que vamos ouvir.
"Muitas vezes estamos assumindo o correto, mas em muitas ocasiões nos baseamos em crenças e estereótipos", diz Wade em relação a imitações imprecisas e exageradas ou quando supomos que o outro é estrangeiro e não poderá nos entender, e falamos com ele pausadamente, em voz alta. Isso, diz ela, pode ser problemático mesmo quando o falante tem a melhor das intenções. [...]
PLITT, Laura. O que é a convergência linguística? Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/curiosidades-63558560. Acesso em 20 Nov 2022.
Ainda segundo o texto, a convergência linguística ocorre: