Questão
2024
CESPE (CEBRASPE)
Prefeitura Municipal de Camaçari (BA)
Professor de Língua Portuguesa (Pref Camaçari/BA)
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O professor Adelino falou sobre o número de sílabas que “o Gonçalves” gostava de usar, das pausas, da rima consoante e da toante, ali havia o segredo da musicalidade de grandes poetas, nec pluribus impar*, falou da velha tradição da poesia portuguesa, dos árcades e que, embora o Gonçalves violasse as regras do verso e da gramática, era um poeta dos melhores. Que o Gonçalves tinha o direito de quebrar as regras do verso porque era verdadeiro poeta e o senso natural dos verdadeiros poetas vale mais que todas as regras, sejam da Versificação, sejam da gramática! Eu o ouvi, fiz-lhe perguntas e nossa conversa aconteceu. Claro, como poderia não acontecer? Ele falava do meu assunto predileto, o Gonçalves, e descobriu que quando falava no poeta, ou em poesia, eu me interessava, ele passou a levar o livro de Antonio para a minha casa, a fazer leituras em voz alta de poemas de Antonio. Embalde o professor Adelino tentava me conquistar com as poesias de Antonio que lia em voz alta, tão emocionado como se ele mesmo as houvesse escrito, ao final tecia comentários sobre a poesia, daí em diante nossos encontros eram para essas leituras, eu sentia algum pudor da situação, mas agradava-me fechar os olhos e imaginar que quem estava ali na minha frente lendo para mim era o autor das composições. 

Ana Miranda. Dias e dias: romance. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 143. 

*superior aos outros homens 

No fragmento de texto precedente, extraído da obra Dias e dias, uma biografia romanceada do escritor Antonio Gonçalves Dias, Feliciana, a narradora, 
A
é também personagem e narra os fatos unicamente a partir do seu ponto de vista, como em um monólogo interior. 
B
apresenta os fatos da narrativa predominantemente do ponto de vista dos demais personagens, embora seja ele também um personagem. 
C
usa o foco narrativo exclusivamente na terceira pessoa para expor os fatos de um ponto de vista imparcial, ainda que seja protagonista. 
D
é onisciente e utiliza o discurso indireto livre para revelar os pensamentos e as falas dos demais personagens. 
E
é também personagem e apresenta a voz dos demais personagens por meio do discurso indireto, limitando-se a relatar o que estes fizeram e disseram.