O menino da porteira (Teddy Vieira)
Toda vez que eu viajava pela Estrada de Ouro Fino, de longe eu avistava a figura de um menino
que corria abrir a porteira e depois vinha me pedindo:
– Toque o berrante, seu moço, que é pra eu ficar ouvindo.
Quando a boiada passava e a poeira ia baixando, eu jogava uma moeda e ele saía pulando:
– Obrigado, boiadeiro, que Deus vá lhe acompanhando.
Pra aquele sertão a fora meu berrante ia tocando.
Nos caminhos desta vida, muito espinho eu encontrei, mas nenhum calou mais fundo do que isso que eu passei.
Na minha viagem de volta, qualquer coisa eu cismei, vendo a porteira fechada, o menino não avistei.
Apeei do meu cavalo e, no ranchinho à beira chão, vi uma mulher chorando, quis saber qual a razão.
– Boiadeiro, veio tarde, veja a cruz no estradão! Quem matou o meu filhinho foi um boi sem coração!
Lá pras bandas de Ouro Fino, levando gado selvagem,
quando passo na porteira, até vejo a sua imagem.
O seu rangido tão triste mais parece uma mensagem daquele rosto trigueiro desejando-me boa viagem.
A cruzinha no estradão do pensamento não sai. Eu já fiz um juramento que não esqueço jamais.
Nem que o meu gado estoure, e eu precise ir atrás, neste pedaço de chão, berrante eu não toco mais.
Texto adaptado de <http://www.academiabrasileiradecinema.com.br/site/i ndex.php?option=com_content&task=view&id=1069&It emid=531&limit=1&limitstart=2>. Acessado em 18 de agosto de 2015.
A leitura dos últimos quatro versos do texto permite concluir que