A corte do leão
O rei dos animais, Dom Leão, quis um dia
conhecer as nações nas quais consistiria
seu domínio. Muitos enviados
foram levar um edital
dizendo estarem convocados
todos ao palácio real.
As audiências se dariam
nesse palácio, e durariam
um mês, do início até o final.
A recepção seria aberta
por uma equipe muito esperta
de macaquinhos amestrados.
Haveria um banquete, e então os convidados,
em comissão oficial
iriam visitar o palácio real.
E assim aconteceu. Mas que palácio horrível!
Carniças espalhadas, um mau cheiro incrível!
O urso tapa o nariz. Ofendido, o leão
dele dá cabo e o manda a visitar Plutão.
O macaco, servil, aplaude aquela ação:
que desaforo, o do urso, chamar de fedor
aquele aroma suave, perfume de flor!
Não sabia, o bajulador,
que havia um parentesco, embora algo distante,
do leão com Calígula. No mesmo instante,
o destino seguiu seu curso,
e ele fez companhia ao urso.
À raposa, calada, dirigiu-se o rei:
- “E tu? Diz a verdade: este cheiro te agrada?”
- “Estou, Senhor, tão constipada,
que até perdi meu faro. Por isto, não sei...
quando sarar, responderei.”
Quem busca na Corte mercês
deve agir sempre assim, usando de esperteza:
nem servilismo vil, nem a brutal franqueza;
prefira, ao “sim” ou “não”, a astúcia de um “talvez”.
(Fábulas de La Fontaine. Belo Horizonte: Itatiaia, 1989. v. 2. p. 41-2)
Das afirmações seguintes:
I. As expressões “um dia” e “palácio real” na fábula indicam, respectivamente, lugar e tempo.
II. A moral da fábula “A corte do leão” é coerente com a narrativa, pois a raposa, diante da força do leão, não se mostra fraca como o urso nem servil como o macaco e com a astúcia dá ao leão uma desculpa que não a compromete.
III. O tipo de narrador empregado nesta fábula foi o narrador-personagem.