Um conjunto de fatores particularmente favoráveis tornou possível o êxito da primeira grande empresa colonial agrícola européia. Os portugueses haviam já iniciado, há algumas dezenas de anos, a produção, em escala relativamente grande, nas ilhas do Atlântico, de uma das especiarias mais apreciadas no mercado europeu: o açúcar. Essa experiência resultou ser de enorme importância, pois, demais de permitir a solução dos problemas técnicos relacionados com a produção de açúcar, fomentou o desenvolvimento em Portugal da indústria de equipamentos para engenhos açucareiros. Se se têm em conta as dificuldades enfrentadas na época para se conhecer qualquer técnica de produção e as proibições que havia para a exportação de equipamentos, compreende-se facilmente que, sem o relativo avanço técnico de Portugal nesse setor, o êxito da empresa brasileira teria sido mais difícil ou mais remoto.
A significação maior da experiência das ilhas do Atlântico foi possivelmente no campo comercial. Tudo indica que o açúcar português inicialmente entrou nos canais tradicionais controlados pelos comerciantes das cidades italianas. A baixa de preços que tem lugar no último quartel do século XV leva a crer, sem embargo, que esses canais não se ampliaram na medida requerida pela expansão da produção. A crise de superprodução dessa época indica claramente que, dentro dos quadros comerciais
estabelecidos tradicionalmente pelas cidades mediterrânicas, o açúcar não podia ser absorvido senão em escalas relativamente limitada. Ocorre, entretanto, que uma das conseqüências principais da entrada da produção portuguesa no mercado fora a ruptura do monopólio, que mantinham os venezianos, do acesso às fontes de produção. Desde cedo a produção portuguesa passa a ser encaminhada em proporção considerável para Flandres. Quando, em 1496, o governo português, sob a pressão da baixa de preços, decidiu restringir a produção, a terça parte desta já se encaminhava para os portos flamengos.
Celso Furtado. Formação econômica do Brasil. São Paulo: 27.ª ed. Companhia Editora Nacional: Publifolha, 2000 (com adaptações).
Considerando o fragmento de texto acima como base, redija um texto dissertativo que contemple, necessariamente, os elementos primordiais de tecnologia e de infra-estrutura que determinaram o êxito descrito no referido fragmento.