Questão
2013
IESES
Conselho Regional de Administração de Santa Catarina
Advogado (CRA SC)
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"Fatigar" ou "fadigar"? 

Aldo Bizzocchi Disponível em: http://revistalingua.uol.com.br/textos/blog-abizzocchi/fatigar-ou-fadigar-281012-1.asp Acesso em 26/04/2013 
 
Tradicionalmente, o verbo correspondente ao substantivo "fadiga" é "fatigar". No entanto, de algum tempo para cá, a forma "fadigar" começa - na verdade, recomeça - a ser empregada. É que "fadiga" é derivação regressiva de "fadigar" e não de "fatigar", revelando que esse verbo não é novo na língua, apenas estava em desuso no linguajar corrente, tendo-se mantido apenas no jargão de algumas especialidades profissionais.
Tudo começa com o verbo latino "fatigare", que deriva de "fatis" (abundância) do mesmo modo como "castigare" deriva de "castus". E "fatigare" significava primitivamente "cansar, enfastiar, entediar", sempre pelo excesso de algo - em bom português, "encher o saco" (vem de longe essa metáfora da paciência como um recipiente que se enche até transbordar).
Esse verbo "fatigare" deu em português duas formas: a culta "fatigar" e a semiculta "fadigar", em que se percebe o abrandamento da consoante intervocálica, fenômeno recorrente na história do nosso idioma.
Como disse mais acima, "fadigar" foi relegado a certo ostracismo, permanecendo no derivado "fadiga", que inicialmente se referia apenas ao cansaço físico após um esforço. Só que algumas profissões passaram a empregar "fadiga" como termo de especialidade para designar algo que só tem a ver com cansaço num sentido bem metafórico. É o caso da engenharia, que fala na fadiga dos materiais (por exemplo, a cobertura do Engenhão, no Rio de Janeiro, corre o risco de desabar por causa da fadiga das estruturas de aço, submetidas ao tempo). Também na medicina existe a fadiga de um órgão: pode ocorrer parada cardíaca se o coração entrar em fadiga; um músculo superexigido após um treino intenso pode sofrer fadiga, isto é, entrar em colapso pelo acúmulo de ácido láctico. Portanto, a fadiga do músculo é diferente da do atleta. Afinal, enquanto este está mais propriamente cansado, seus músculos estão na verdade lesionados.
Da fadiga do concreto do edifício ou da musculatura do esportista ao verbo "fadigar" com o sentido técnico de provocar fadiga é um pulinho.
Por isso, hoje em dia, muitos engenheiros, médicos, treinadores, fisioterapeutas, etc., utilizam o verbo "fadigar" como se fosse derivado de "fadiga" e não o contrário. É que esses falantes sequer suspeitam que tal verbo já existe há séculos. E o empregam como um neologismo com significado bem diverso do original. A rigor, poderíamos até pensar que, se quem começou a empregar esse verbo como termo técnico desconhecia sua existência anterior, então se trata realmente de um novo verbo, homônimo do primeiro. O que cria um curioso dilema etimológico: teríamos dois verbos homônimos (e não duas acepções do mesmo verbo) com o mesmo étimo, o que contraria a própria definição de homonímia.
O fato é que ninguém atualmente utiliza "fatigado" em textos de engenharia nem emprega "fadigado" como sinônimo de "cansado".

Assinale a alternativa que contém informação verdadeira de acordo com o texto:
A
No penúltimo parágrafo, o autor declara que o verbo fadigar só pode ser visto como novo se considerar que as pessoas que o empregam como termo técnico ignoram sua existência com outro sentido.
B
Com a frase que compõe o último parágrafo, o autor quer dizer que se usa somente a forma “fadigado” em todos os sentidos possíveis.
C
Ao dizer que alguns profissionais “utilizam o verbo ‘fadigar’ como se fosse derivado de ‘fadiga’ e não o contrário”, o autor refere-se ao fato de que a palavra “fatiga” é que vem do verbo “fatigar”.
D
Ao dizer que se “cria um curioso dilema etimológico” o autor referese ao fato de que aí reside um problema de caráter fonético, pois a troca de letras exige que se pronunciem as palavras de forma distinta.