Vício na fala
Para dizerem milho dizem mio Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia Para telhado dizem teiado E vão fazendo telhados
Oswald de Andrade.
Exclusão e Preconceito Linguístico
Observando o famoso poema “Vício na fala”, de Oswald de Andrade, podemos analisar a língua e seus falantes a fim de repensar a estética e a linguagem poética. O poeta dessacraliza a escrita e a poesia: as falas mio, mió, pió, teia, teiado, isto é, manifestações da língua “feia”, “errada”, não autorizada e não oficial, constroem em um processo simultâneo os telhados e a linguagem (quem sabe os “telhados da linguagem”), edificando a sua história e a história da Língua Portuguesa pelo uso dinâmico da língua tomada em toda a sua vitalidade e dialogia; uma língua que comunica independentemente da (ou justamente por) sua condição dialetal estigmatizada por muitos enunciadores da fala “correta”, bonita, oficial e autorizada.
À luz da proposta modernista de Oswald de Andrade, podemos dizer que a linguagem literária do poema satiriza uma realidade sociolinguística: o preconceito linguístico que se estende ao indivíduo, classe social, cultura e identidade, “impedindo [-o] de elaborar sua própria visão de mundo, a partir das suas condições de existência e de seus interesses”.
Nosella, 1981, p. 27.
De acordo com Garcez (2004), Zilles (2004), Bagno (2004), Fiorin (2004), Possenti (2004) e Guedes (1998), o Brasil ainda é considerado um país monolíngue, justamente porque a referência é a concepção de língua homogênea e estática, supostamente única em todo o território nacional. Essa ideia ainda é veiculada pela escola e pelos discursos sobre a língua na sociedade, cujas consequências se refletem dentro e fora da escola.
Preconceito linguístico e ensino da Língua Portuguesa: o papel da mídia e as implicações para o livro didático. In: Textos em Contextos. Gláuci Helena Mora Dias.
Assinale a alternativa que apresenta um exemplo de aposto.