Texto: Telegrama
Carlos Drummond de Andrade
Emoção na cidade.
Chegou telegrama para Chico Brito.
Que notícia ruim,
que morte ou pesadelo
avança para Chico Brito no papel dobrado?
Nunca ninguém recebe telegrama
que não seja de má sorte.
Para isso foi inventado.
Lá vem o estafeta com rosto de Parca
trazendo na mão a dor de Chico Brito.
Não sopra a ninguém.
Compete a Chico
descolar as dobras
de seu infortúnio.
Telegrama telegrama telegrama.
Em frente à casa de Chico Brito o voejar
murmure de negras hipóteses confabuladas.
O estafeta bate à porta.
Aparece Chico, varado de sofrimento prévio.
Não lê imediatamente.
Carece de um copo de água
e de uma cadeira.
Pálido, crava os olhos nas letras mortais:
Queira aceitar efusivos cumprimentos passagem
data natalícia espero merecer valioso apoio
distinto correligionário minha reeleição
deputado federal quinto distrito cordial abraço.
Carlos Drummond Andrade
Fonte:https://espacoacademico.wordpress.com/2011/12/24/poemas-de-carlos-rummond-de- andrade/
No verso “Chegou telegrama para Chico Brito”, o verbo chegou tem sua correta classificação descrita na alternativa: