Questão
2014
COPESE (UFT)
Prefeitura Municipal de Gurupi (TO)
Professor Nível Especial 1 Médio (Pref Gurupi/TO)
Texto-I-personagem5462ea6543f
Texto I - a personagem-narradora conta sobre a triste realidade das crianças brasileiras que precisam trabalhar. No texto II, Meninos Carvoeiros, o poeta Manuel Bandeira também aborda a temática do trabalho de crianças que trabalham em carvoarias.

OS FILHOS DO CARVÃO



Aposto que você não sabia que o carvão é a lenha do eucalipto queimado em fornos chamados “rabos quentes”, sabia? E, se não sabia disso, também não deve saber que rabo quente é uma espécie de iglu (já viu como é a casa do esquimó?), feito de tijolo e barro, que arde e estala com o fogo aceso durante três dias.

Pois é. Só que, para fazer o eucalipto virar carvão, muitas crianças têm que trabalhar junto com os pais. Quem contou e até mostrou tudo isso para a minha professora foi a Luciane, uma menina de 15 anos, que vive numa fazenda em Água Clara (no Mato Grosso do Sul). Ela tem mais dois irmãos adolescentes e duas irmãs pequenas. Todos trabalham com o pai numa carvoaria. Escute só o que mais ela falou:

“O médico me proibiu de mexer com fumaça, pois já tive pneumonia. Mas meu pai não aguenta trabalhar sozinho. Desde os 7 anos eu ajudo ele. Comecei fazendo porta de forno, depois aprendi de tudo. Tem de transportar a lenha, botar fogo, esperar esfriar e retirar o carvão. Tem tanta coisa para se fazer numa carvoaria que, de noite, a gente dorme até em pé.”

Agora, pare um pouco e pense como deve ser horrível a gente não poder deitar em uma cama macia, cheirosa e quentinha, ainda mais quando está caindo de cansado. Pois é... Esta história dos filhos do carvão só tem fumaça e tristeza. Se eu fosse pintar, só usaria o lápis cinza. E o preto também, claro, pra pintar o carvão e o “gato”.

Sabe o que é esse gato preto entre aspas? É o empreiteiro, o homem que contrata os carvoejadores e depois leva todos para morar em barracas, dentro das florestas onde estão os eucaliptos que vão virar carvão. É ali, no meio da fumaça e longe da cidade, que famílias como a de Luciane vivem. E não é só em Água Clara. A Dona Catarina disse que também em Minas Gerais, na Bahia e no Pará.

Esta história cinza-triste me fez lembrar de amarelinha. É que minha mãe sempre me dá um pedaço de carvão quando eu quero riscar uma amarelinha na calçada. É melhor que giz, porque o preto aparece mais.

Será que essas crianças do carvão já brincaram alguma vez de amarelinha?

MENINOS CARVOEIROS



Os meninos carvoeiros
Passam a caminho da cidade.
- Eh, carvoero!
E vão tocando os animais com um relho enorme.

Os burros são magrinhos e velhos.
Cada um leva seis sacos de carvão de lenha.
A aniagem é toda remendada.
Os carvões caem.
(Pela boca da noite vem uma velhinha que os recolhe, dobrando-se com um gemido.)

- Eh, carvoero!
Só mesmo estas crianças raquíticas
Vão bem com estes burrinhos descadeirados.
A madrugada ingênua parece feita para eles...
Pequenina, ingênua miséria!
Adoráveis carvoeirinhos que trabalheis como se brincásseis!
- Eh, carvoero!

Quando voltam, vêm mordendo num pão encarvoado,
Encarapitados nas alimárias,
Apostando corrida,
Dançando, bamboleando nas cangalhas como espantalhos
[desamparados!

BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. 25 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.

A intertextualidade encontra-se presente entre os textos (Os filhos do carvão e Meninos Carvoeiros). Com base no entendimento dos dois textos, marque a alternativa CORRETA.
A
Em: Os filhos do carvão, os autores defendem que todas as crianças têm direitos iguais em relação aos direitos dos adultos e que, por isso, podem e devem trabalhar.
B
Tanto o Texto I quanto o Texto II tratam da questão da exploração do trabalho infantil. No primeiro texto, a situação das crianças que trabalham em carvoarias é mostrada ao leitor pela voz de uma criança. No segundo texto, a voz que fala no poema é a do poeta, que denuncia o dia-a-dia dos “carvoeirinhos” que trabalham como se estivessem brincando.
C
No texto II, o poeta Manuel Bandeira escreve “carvoero” porque não conhece direito a língua portuguesa e não sabe que a maneira correta de escrever a palavra é carvoeiro e não “carvoero”.
D
Em, “Quando voltam, vêm mordendo num pão encarvoado”, o termo em destaque está se referindo ao verso anterior “Eh, carvoero!” e por isso, a forma verbal “vêm” está incorreta por não concordar com “carvoero”.