Questão
2017
Instituto AOCP
Câmara Municipal de Maringá (PR)
Assessor Legislativo (CM Maringá/PR)
2017
Instituto AOCP
Câmara Municipal de Maringá (PR)
Contador (CM Maringá/PR)
2017
Instituto AOCP
Câmara Municipal de Maringá (PR)
Jornalista Repórter (CM Maringá/PR)
Texto-1-Metamorfose5000047b8cb
Texto 1

A Metamorfose (Franz Kafka)

Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso. Estava deitado sobre suas costas duras como couraça e, ao levantar um pouco a cabeça, viu seu ventre abaulado, marrom, dividido por nervuras arqueadas, no topo do qual a coberta, prestes a deslizar de vez, ainda mal se sustinha. Suas numerosas pernas, lastimavelmente finas em comparação com o volume do resto do corpo, tremulavam desamparadas diante dos seus olhos.

– O que aconteceu comigo? – pensou.

Não era um sonho. Seu quarto, um autêntico quarto humano, só que um pouco pequeno demais, permanecia calmo entre as quatro paredes bem conhecidas. Sobre a mesa, na qual se espalhava, desempacotado, um mostruário de tecidos – Samsa era caixeiro viajante –, pendia a imagem que ele havia recortado fazia pouco tempo de uma revista ilustrada e colocado numa bela moldura dourada. Representava uma dama de chapéu de pele e boá de pele que, sentada em posição ereta, erguia ao encontro do espectador um pesado regalo também de pele, no qual desaparecia todo o seu antebraço.

O olhar de Gregor dirigiu-se então para a janela e o tempo turvo – ouviam-se gotas de chuva batendo no zinco do parapeito – deixou-o inteiramente melancólico

– Que tal se eu continuasse dormindo mais um pouco e esquecesse todas essas tolices? – pensou, mas isso era completamente irrealizável, pois estava habituado a dormir do lado direito e no seu estado atual não conseguia se colocar nessa posição. Qualquer que fosse a força com que se jogava para o lado direito, balançava sempre de volta à postura de costas. Tentou isso umas cem vezes, fechando os olhos para não ter de enxergar as pernas desordenadamente agitadas, e só desistiu quando começou a sentir do lado uma dor ainda nunca experimentada, leve e surda.

–Ah, meu Deus! – pensou. – Que profissão cansativa eu escolhi. Entra dia, sai dia – viajando. A excitação comercial é muito maior que na própria sede da firma e além disso me é imposta essa canseira de viajar, a preocupação com a troca de trens, as refeições irregulares e ruins, um convívio humano que muda sempre, jamais perdura, nunca se torna caloroso. O diabo carregue tudo isso!

Sentiu uma leve coceira na parte de cima do ventre; deslocou-se devagar sobre as costas até mais perto da guarda da cama para poder levantar melhor a cabeça; encontrou o lugar onde estava coçando, ocupado por uma porção de pontinhos brancos que não soube avaliar; quis apalpá-lo com uma perna, mas imediatamente a retirou, pois ao contato acometeram-no calafrios.

Franz Kafka. A metamorfose (tradução de Modesto Carone). São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

É correto afirmar que, no primeiro parágrafo de A metamorfose, o autor articula diversas vezes elementos antagônicos, a fim de sugerir a condição ambígua de seu protagonista. Gregor Samsa acorda transformado em inseto, mas, ao mesmo tempo, guarda em si traços humanos. Sabendo disso, assinale a alternativa em que os termos destacados façam referência, respectivamente, a esses traços humanos e inumanos:
A
“Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos [...]”
B
“encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso”
C
“Estava deitado sobre suas costas duras como couraça [...]”
D
“[...] ao levantar um pouco a cabeça, viu seu ventre abaulado [...]”
E
“Suas numerosas pernas, lastimavelmente finas em comparação com o volume do resto do corpo, tremulavam desamparadas diante dos seus olhos.”