TEXTO:
As luas de Luísa
A Terra tem uma lua, Saturno tem vinte, mas Luísa, temperamental, imprevisível, criativa, brincalhona, chorona, risonha, carente e absurda, tinha pelo menos umas trinta luas perto de si. Cada lua representava um estado de espírito diferente. A melhor lua iluminava as brincadeiras noturnas quando Luísa ficava acordada até tarde, jogando, brincando, pulando na cama, vendo TV, fazendo maluquices e olhando pro céu. Era quando a mãe chagava e dizia: “Pare com isso, amanhã você tem que acordar cedo”. O que já era o suficiente para despertar a pior das luas: a do mau humor. Nesse momento ela batia o pé, chorava, xingava, e a mãe dizia apenas: “Luísa você é de lua!”. E fechava a janela. Luísa navegou nos bons e maus humores por alguns anos, até que um dia percebeu que o tempo, com sua velocidade, também parecia absurdo, esticando as crianças, envelhecendo os adultos, expandindo o universo e apagando e acendendo as estrelas. Olhou para o seu novo corpo de menina-moça e viu alguns de seus estados-luas de espírito se afastarem lentamente. Foi quando se deu conta do brilho da lua real, cheia de prateada que iluminava os corações apaixonados. Alguma coisa estava mudando dentro dela, se sentia menos absurda. Mas não muito: quando olha para o céu, Luísa sonha com um lugar encantado, onde fadas se encontram com os sapos e fazem deles... príncipes!
(FRATE, Diléa. Histórias para acordar. São Paulo: Cia das Letrinhas, 1996. p.72)