TEXTO 1
O lobo e o cordeiro
Um pequeno cordeiro bem desavisado bebia água numa bica, calmo e relaxado.
Um lobo aparecendo, não se sabe donde, já que numa cidade lobo não se esconde, a fim de devorar o cordeirinho amável, foi logo dizendo num tom desagradável:
— Porco, você está pondo a boca na torneira e isso para mim é uma tremenda sujeira. Depois eu estou a fim de beber desta água. Falo isso no duro sem raiva e sem mágoa. — Foi a vez de o cordeiro acanhado dizer:
— Seu lobo, eu não estou pondo a boca pra beber e mesmo que assim fosse, como o senhor pensa, informo que não tenho nenhuma doença.
— Pode ser — disse o lobo. — Mas ontem no morro, teu pai disse que eu era um lobo cachorro.
— O senhor se enganou — disse o outro assustado. — O meu pai faleceu já no ano passado.
— Então foi tua mãe — disse o lobo gritando, e o cordeiro falou quase desculpando:
— Eu garanto. Mamãe? E impossível, coitada. Teve enfarte e morreu quando foi tosquiada.
— Respondeu o tal lobo sem titubear:
— Bom, não interessa! Só sei que vou te jantar!
Pegou o cordeirinho nervoso e aflito, preparou pro jantar e comeu ele frito.
MORAL: Mesmo nas mais agitadas megalópoles, onde às vezes falta água, o lobo come o cordeirinho.
SOARES, J. O astronauta sem regime. São Paulo: Círculo do Livro, 1993.
TEXTO 2
Lobo e o Cordeiro
Estava o cordeirinho bebendo água, quando viu refletida no rio a sombra do lobo. Estremeceu, ao mesmo tempo em que ouvia a voz cavernosa: “Vais pagar com a vida esse feio crime”. “Que crime?”, perguntou o cordeirinho, tentando ganhar tempo, pois já sabia que, com o lobo, não adiantava argumentar. “O crime de sujar a água que eu bebo”. “Mas
como posso eu sujar a sua água, se sou lavado diariamente pelas máquinas automáticas da Fazenda?”, indagou o cordeirinho. “Por mais limpo que esteja um cordeiro, é sempre sujo para um lobo”, retrucou o lobo. “Mas como posso eu sujar a sua água, se estou abaixo da corrente?”, tornou a argumentar o cordeirinho. “Pois se não foi você, foi seu pai, se não foi seu pai, foi seu avô, e eu vou comê-lo do mesmo jeito, pois sou arbitrário e, segundo rezam os manuais, só me alimento de carne de cordeiro”, finalizou o lobo, preparando-se para devorá-lo. “Ein moment! Ein moment!”, disse o cordeirinho, que sabia seu alemão kantiano. “Dou-lhe toda razão, mas faço-lhe uma proposta: se me deixar livre, atrairei para aqui todo o rebanho”. “Chega de conversa”, disse o lobo. “Vou com ê-lo logo e pronto”. “Mas, espere ai”, tentou ainda o cordeiro, “isso não é ético. Eu tenho pelo menos direito a três perguntas”. “Pois bem”, disse o lobo. “Qual é o mais estúpido animal do mundo?”. “O homem casado”, respondeu prontamente o cordeiro. “Muito bem! Muito bem!”, disse o lobo, logo refreando, envergonhado, o seu entusiasmo. “Outra: a zebra é um animal branco de listas pretas ou um animal preto de listras brancas?”. “Um animal sem cor, pintado de preto e branco, pra não passar por burro”, respondeu o cordeirinho. “Perfeito”, disse o lobo engolindo em seco. “Agora, por último: diga uma frase de Bernard Shaw”.
“O Marechal Lott e o futuro Presidente da República”, respondeu logo o cordeiro.
“Muito bem, muito certo, você escapou”, deu-se o lobo por vencido. E já se preparando para comer o cordeiro, quando apareceu o caçador e o esquartejou.
Moral: Quando o Lobo tem fome não se deve meter em filosofias.
Fernandes, M. Fábulas fabulosas. Rio de Janeiro: Nórdica, 1973.
Analise as afirmações a seguir relativas às duas fábulas.
I. A moral dos textos possui a mesma orientação argumentativa.
II. A sequência dominante do primeiro texto apresenta as seguintes fases: sequência fática de abertura, operações interacionais e sequência fática de fechamento.
III. Há mais de uma sequência textual: uma dominante (a narrativa) e, pelo menos, três secundárias (argumentativa, descritiva e dialogal).
IV. No segundo texto, o discurso direto não apresenta as características que lhe são próprias: presença do verbo discendi, disposição padrão da cadeia sintagmática e uso convencional de certos sinais de pontuação.
V. A moral do segundo texto desconstrói a do primeiro, quando defende que há argumentos que podem vencer a força.
Das afirmações, estão corretas