Questão
2015
MÁXIMA AUDITORIA
Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Governador Valadares (MG)
Ajudante Operacional (SAAE Governador Valadares/MG)
2015
MÁXIMA AUDITORIA
Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Governador Valadares (MG)
Eletricista (SAAE Governador Valadares/MG)
2015
MÁXIMA AUDITORIA
Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Governador Valadares (MG)
Encanador (SAAE Governador Valadares/MG)
2015
MÁXIMA AUDITORIA
Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Governador Valadares (MG)
Mecânico de Veículos (SAAE Governador Valadares/MG)
2015
MÁXIMA AUDITORIA
Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Governador Valadares (MG)
Motorista (SAAE Governador Valadares/MG)
2015
MÁXIMA AUDITORIA
Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Governador Valadares (MG)
Operador de ETA (SAAE Governador Valadares/MG)
2015
MÁXIMA AUDITORIA
Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Governador Valadares (MG)
Operador de Máquinas Pesadas (SAAE Governador Valadares/MG)
2015
MÁXIMA AUDITORIA
Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Governador Valadares (MG)
Pedreiro (SAAE Governador Valadares/MG)
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Sem asas, porém

Dura aldeia era aquela, em que às mulheres não era permitido comer carne de aves — não fossem as asas subir-lhes ao pensamento. Dura aldeia era aquela em que, apesar da proibição, voltando da caça ao final da tarde e sem nada mais ter conseguido abater, o marido entregou à mulher uma ave, para que a depenasse e a cozesse e fosse alimento de ambos. 
E assim a mulher fez, metendo os dedos por entre as penas ainda brilhantes, arrancando-as aos punhados, e entregando à água e ao fogo aquele corpo agora morto, que a fogo e água nunca havia pertencido, mas sim ao ar e à terra.
Tivesse olhado para o alto por um minuto, tivesse detido por um instante sua tarefa e levantado o olhar, e teria visto pela janela bandos daquelas mesmas aves migrando rumo ao Sul. Mas a mulher só olhava para as coisas quando precisava olhá-las. E não precisando olhar o céu, não ergueu a cabeça...
Cozida a carne da ave, regalou-se; engolindo os bocados sem quase mastigar, firmou os dentes nos ossos, sugou o tutano. O marido não. Repugnou-lhe a carne tão escura. Limitou-se a molhar o pão no caldo, maldizendo sua pouca sorte de caçador. 
Passados dias, a mulher nem mais se lembrava do seu raro banquete. Outras carnes assavam e eram ensopadas, na cozinha daquela casa, na cozinha que era quase toda a casa.
Mas uma inquietação nova começou a tomá-la. Interrompia seus afazeres de repente, como nunca havia feito. Paradas breves, quase nada. Um suspender do queixo, um vibrar, de pestanas. Um alerta. Resposta do corpo a algum chamado que ela sequer ouvia a agulha, ficava parada no ar, a colher dispensa sobre a panela, as mãos metidas na tina. E a cabeça, cabeça que agora se movia com a delicadeza que só um pescoço mais longo poderia lhe dar, espetava o ar.
A mulher olhava então para aquilo de que não precisava. E olhava como se precisasse.
Só por instantes, a princípio. Em seguida, um pouco mais.
Demorando-se, olhou primeiro adiante. Adiante de si. E adiante daquilo que tinha diante de si. Por uns tempos pousando o olhar nos móveis, nos poucos móveis daquela casa e nos objetos em cima deles. Depois varando-os, varando as paredes, olhou para a distância em linha reta. O que via, não dizia. Olhava, sacudia num gesto suave a cabeça. E tornava a abaixá-la. A agulha descia, a colher mergulhava na panela, as mãos afundavam na tina.
Talvez levada por aquele breve sacudir de cabeça, começou a olhar para os lados. Olhava para o lado esquerdo, demorava-se, imóvel. E, súbita, voltava-se para o lado direito.
Ninguém lhe perguntava o que estava olhando. O único olhar que nela parecia importar para os outros ainda era, o antigo, de quando só olhava o que era necessário.
E assim um dia aquela mulher para a qual ninguém olhava olhou o céu. Sem que tivesse chovido ou fosse chover. Sem que houvesse relâmpagos. Sem que sequer houvesse nuvens ou o tempo fosse mudar, ela olhou o céu.
Delicado fazia-se seu pescoço agora que o movimenta, a ligeiro conduzindo a cabeça nas suas perscrutações. Era um pescoço pálido, protegido da luz por tantos de cabeça baixa. E sobre esse pescoço a cabeça como que se estendia olhando para cima, com a mesma reta intensidade com que havia começado, varando paredes.
Olhava pois para o alto, quando um bando das aves passou sobre a casa rumo ao Sul.
Há muito as folhas haviam-se banhado de cobre, o solo começava a fazer-se duro no frio. E as aves de carne escura seguiam no céu em direção ao sol.
De pé, a mulher olhava. E continuou olhando até que as aves empalideceram na distância.
O vento batia os longos panos da sua saia, estalava as asas franjadas do seu xale. Não, ela não voou. E como poderia? Saiu andando, apenas. Escura como a tarde, acompanhando seu próprio olhar, saiu andando para a frente, sempre para a frente, rumo ao Sul.

(COLASANTI , Marina. Longe como o meu querer. São Paulo, Ática, 1997. p. 57-59.)

"Dura aldeia era aquela." Assim começa o texto. Uma característica singular da aldeia que se passa nessa história é:
A
As mulheres não podiam comer carne de aves.
B
As mulheres não podiam voar.
C
As mulheres tinham que cozinhar tudo para o marido e não podiam comer nada.
D
As mulheres tinham medo de aves, por isso não as comiam.