Rir, o melhor remédio
Em janeiro de 1962, um surto de riso num internato para garotas de Kahasha, um pequeno vilarejo na Tanzânia, obrigou o fechamento temporário da escola. A “epidemia” começara da maneira mais simples do mundo. Três alunas desataram a rir – sim, apenas “rá! rá! rá!” – e logo as gargalhadas tomaram conta de outras 95 das 159 meninas do internato. Eram ataques que podiam durar poucos minutos, um par de horas – mas também vários dias. A escola reabriu suas portas quatro meses depois, porém teve que fechá-las novamente em poucas semanas. Tudo porque outras 57 meninas haviam sido contaminadas pelo surto de hilaridade.
As risadas não se restringiram aos corredores da escola. Tal como uma versão cômica (e benigna) do vírus ebola, a epidemia espalhou-se rapidamente por alguns grotões do país africano. Como relata Robert R. Provine, Rir, o melhor remédio professor de Psicologia e Neurociências na Universidade de Maryland, Estados Unidos, e autor de Laughter: A Scientific Investigation (“Risada: uma investigação científica”, ainda sem tradução no Brasil), logo outras regiões da Tanzânia estavam sofrendo com o surto de gargalhadas espalhado pelas alunas do internato.
As risadas foram parar em Nshamba, cidade natal de várias garotas.
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A ideia central do livro, que sintetiza dez anos de dedicação ao tema, apresenta o riso como a mais poderosa forma de interação social entre humanos. Provine, que pesquisou com seus alunos 1 200 situações de risadas em locais como praças, shopping centers, pátios de universidades e hospitais, mostra que a risada arreganha as contradições do nosso comportamento. Somos tão racionais e, no entanto, rimos de frases que não têm a menor sombra de humor – muitas vezes porque outras pessoas começaram a rir antes. O motivo é simples, explica o pesquisador: temos no cérebro mecanismos que detectam e reproduzem o riso. Esses mecanismos seriam responsáveis por surtos hilários como o da Tanzânia, por exemplo.
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Antes da ciência, o mundo dos espetáculos e do show business já havia descoberto como tirar proveito da combinação entre piadas e risos. Sabe aquela risada coletiva que ecoa nos programas humorísticos das tevês do mundo inteiro e contagia os espectadores? Pois sua forma “industrializada” existe desde setembro de 1950, quando o seriado cômico The Hank McCune Show inaugurou a prática de inserir risadas em playback de uma claque especialmente contratada ao final de cada gag (piada). A invenção foi um sucesso instantâneo e é praticada até os dias de hoje, mesmo tendo sido considerada, em 1999, uma das 100 Piores Ideias do Mundo em votação da revista Tima. Sem a claque, acredite, a risada que você vê na tela seria muito menos engraçada. Até parece piada.
Laughter: A Scientific Investigation The Hank McCune Show Time (In: http://super.abril.com.br/ciencia/rirmelhor-remedio-442631.shtml)
“Tal como uma versão cômica
(e benigna) do vírus ebola...” (parágrafo 2).