Rapper Djonga é Cultura de Resistência
""Eles são a resposta pra fome
Eles são o revólver que aponta
Vocês são a resposta porque tanto Einstein no
morro morre e não desponta" - Djonga
Djonga, Gustavo Pereira, 24 anos, é um artista com repertório além da média da nossa geração. Com 22 canções próprias, três cyphers[1] e uma coprodução, o rapper mineiro canta sobre representatividade, violência, cultura e afeto em uma linha consciente e poética que atravessa toda sua produção artística.
Em seu último show em São Paulo (03), Djonga abriu e encerrou sua apresentação com manifestações políticas sobre o cenário nacional e foi aclamado pelo público. É uma das vozes mais conscientes do nosso tempo, não pela complexidade das rimas, mas pelo poder de síntese que atinge grupos sociais diversos.
Djonga negou a clássica distinção política de "esquerda" e "direita" em sua participação do cypher "Favela Vive 3". Respondendo ao avanço da violência policial, o artista deu o tom da resistência cultural no avanço do autoritarismo.
"No século XXI, a cada 23 minutos morre um jovem negro. E você é negro que nem eu, pretin.
Não ficaria preocupado?"[2], cantou.
A violência do estado é um tema central no seu segundo álbum "O Menino Que Queria Ser Deus". Na música "Corra", o rapper transcorre do início da escravidão ao processo urbano de favelização. "Eu disse: oh como cê chega na minha terra. Ele responde: quem disse que a terra é sua?"[3]. Esta canção ainda tem a presença de discurso indireto livre que mescla a narrativa do senhor de escravos com a do capitalista contemporâneo. Uma música de diversificado potencial artístico.
O autor de 24 anos ainda tem uma canção sobre paternidade presente, com versos sinceros de um pai ensinando seu filho sobre um mundo social de adversidades. "Um dia cê vai entender isso tudo. Pensando bem, menor. Espero que você viva outro mundo"[4]. O tema de controle de natalidade e gravidez indesejada aparece em diversa canções como um alerta claro e objetivo.
Djonga não se preocupa apenas em jogar dados da violência periférica, mas construir uma subjetividade que sente cada perda e cada vitória como um processo. Em "Junho de 94", uma das músicas mais densas, o cantor constata que morrer não é uma opção e reavalia seu caminho artístico iniciado em 2012 até o momento. "Ainda eu não tô pronto para a morte. Hoje eu acordei meio Renato Russo, querendo recuperar o tempo perdido"[7]. Assume a postura e o peso de ser o exemplo de uma geração; "Não aguentam ver um preto líder. Eu devolvi a autoestima pra minha gente. Isso que é ser hip-hop".
No contexto político incerto que enfrenta o país, Djonga demonstra uma potência transformadora em suas rimas. Atingindo grupos sociais diversos com canções que articulam complexidades sociais de forma sintética, o cantor desenvolve uma carreira de resistência frente aos processos de marginalização histórico de grupos sociais específicos.
Em uma das suas canções mais conhecidas, "Olho de tigre", Djonga, no início de 2017, já desenhava o que seria a ascensão de Jair Bolsonaro; "Pra salvar o país, Cristo é um ex-militar que acha que mulher reunida é puteiro"[5]. A música tornou-se um hit pela radicalização da postura ativista, consagrando o slogan político "fogo nos racistas", sem delongas. Com a música "Esquimó", Djonga encerrou seu último show no sábado com o trecho "Onde tem quem acha graça zoar viado, eu acho engraçado um racista baleado"[6] sendo repetido diversas vezes pelo público.
Autor: Gabriel Prado. Publicado em: Justificando (mentes inquietas pensam melhor)
No período "É uma das vozes mais conscientes do nosso tempo, não pela complexidade das rimas, mas pelo poder de síntese que atinge grupos sociais diversos ", a frase destacada estabelece em relação a anterior uma relação de: