Quem precisa saber escrever?
diversas. Outro dia, chegou a mensagem de um sujeito gentil,
fazendo comentários elogiosos à coluna. Cometeu alguns
erros gramaticais comuns, como acontece com meio mundo,
mas o que me surpreendeu foi que ele se despediu dizendo:
“Desculpe por não escrever o português corretamente, mas
sabe como é, sou engenheiro.” O raciocínio era que se ele
fosse escritor, jornalista ou professor, escrever certo seria
obrigatório, mas sendo engenheiro, estava liberado desta
fatura.
Assim como ele, inúmeras pessoas acreditam que
escrever não está na lista das cem coisas que se deva
aprender a fazer direito na vida. Antes de aprender a escrever
bem, esforçam-se em aprender a falar um inglês fluente, a
jogar golfe e a utilizar o hashi num restaurante japonês.
Escrever bem? Não parece tão necessário, já que acabamos
sendo igualmente compreendidos. “Espero não lhe
com este e-mail, é que jornalismo e queria
umas dicas”.Orecado foi dado, quem vai negar?
É preciso dizer que não há ninguém que seja imune
a erros. Todo mundo se engana, todo mundo tem dúvidas.
Não conheço um escritor que não trabalhe com o dicionário
ao lado. De minha parte, sempre tenho uma consulta a fazer,
nunca estou 100% segura, e mesmo tomando todas as
precauções, erro. Acidentes acontecem. O que não pode
acontecer é a gente se lixar para a aparência das nossas
palavras.
Escrever bem – não estou falando de escrever com
estilo, talento, criatividade, apenas de escrever certo –
deveria ser considerado um hábito tão fundamental quanto
tomar banho ou escovar os dentes. Um texto limpo também
faz parte da higiene. Bilhetes, e-mails, cartões de
agradecimento, tudo isso diz quem a gente é. Se você não sai
de casa com um botão faltando na camisa, por que acharia
natural escrever uma carta com as letras fora do lugar?
Martha Medeiros, RevistaOGLOBO, 15-5-2005
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