Questão
2014
CEPUERJ
Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes (RJ)
Médico Endocrinologista (Pref Campos dos Goytacazes/RJ)
2014
CEPUERJ
Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes (RJ)
Médico do Trabalho (Pref Campos dos Goytacazes/RJ)
2014
CEPUERJ
Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes (RJ)
Médico Dermatologista (Pref Campos dos Goytacazes/RJ)
2014
CEPUERJ
Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes (RJ)
Médico Clínico (Pref Campos dos Goytacazes/RJ)
2014
CEPUERJ
Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes (RJ)
Médico Cardiologista (Pref Campos dos Goytacazes/RJ)
2014
CEPUERJ
Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes (RJ)
Médico Angiologista (Pref Campos dos Goytacazes/RJ)
2014
CEPUERJ
Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes (RJ)
Médico Ginecologista - Obstetra (Pref Campos dos Goytacazes/RJ)
2014
CEPUERJ
Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes (RJ)
Médico Infectologista Adulto (Pref Campos dos Goytacazes/RJ)
2014
CEPUERJ
Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes (RJ)
Médico Infectologista Pediatra (Pref Campos dos Goytacazes/RJ)
2014
CEPUERJ
Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes (RJ)
Médico Mastologista (Pref Campos dos Goytacazes/RJ)
2014
CEPUERJ
Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes (RJ)
Médico Neuropediatra (Pref Campos dos Goytacazes/RJ)
2014
CEPUERJ
Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes (RJ)
Médico Oftalmologista (Pref Campos dos Goytacazes/RJ)
2014
CEPUERJ
Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes (RJ)
Médico Pediatra (Pref Campos dos Goytacazes/RJ)
2014
CEPUERJ
Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes (RJ)
Médico Proctologista (Pref Campos dos Goytacazes/RJ)
2014
CEPUERJ
Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes (RJ)
Médico Psiquiatra (Pref Campos dos Goytacazes/RJ)
2014
CEPUERJ
Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes (RJ)
Médico Reumatologista (Pref Campos dos Goytacazes/RJ)
VER HISTÓRICO DE RESPOSTAS
ORGANIZADOR988890cc724
ORGANIZADOR 2PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPOS DOS GOYTACAZESMÉDICO PSIQUIATRA - PROVA OBJETIVALÍNGUA PORTUGUESA Os rolezinhos nos acusam: somos uma sociedade injusta e segregacionista

Leonardo Boff

O fenômeno dos centenas de rolezinhos que ocuparam shoppings centers no Rio e em São Paulo suscitou as mais disparatadas interpretações. Algumas, dos acólitos da sociedade neoliberal do consumoque identificam cidadania com capacidade de consumir, geralmente nos jornalões da mídia comercial, nemmerecem consideração. São de uma indigência analítica de fazer vergonha.

 Mas houve outras análises que foram ao cerne da questão, como a do jornalista Mauro Santayana do JB on-line e as de três especialistas que avaliaram a irrupção dos rolés na visibilidade pública e o elemento explosivo que contém. [...] 

Eu, por minha parte, interpreto da seguinte forma tal irrupção:

Em primeiro lugar, são jovens pobres, das grandes periferias, sem espaços de lazer e de cultura, penalizados por serviços públicos ausentes ou muito ruins como saúde, escola, infraestrutura sanitária, transporte, lazer e segurança. Veem televisão cujas propagandas os seduzem para um consumo que nunca vão poder realizar. E sabem manejar computadores e entrar nas redes sociais para articular encontros. Seria ridículo exigir deles que teoricamente tematizem sua insatisfação. Mas sentem na pele o quanto nossa sociedade é malvada porque exclui, despreza e mantém os filhos e filhas da pobreza na invisibilidade forçada. O que se esconde por trás de sua irrupção? O fato de não serem incluídos no contrato social. Não adianta termos uma “constituição cidadã” que neste aspecto é apenas retórica, pois implementou muito pouco do que prometeu em vista da inclusão social. Eles estão fora, não contam, nem sequer servem de carvão para o consumo de nossa fábrica social (Darcy Ribeiro). Estar incluído no contrato social significa ver garantidos os serviços básicos: saúde, educação, moradia, transporte, cultura, lazer e segurança. Quase nada disso funciona nas periferias. O que eles estão dizendo com suas penetrações nos bunkers do consumo? “Oia nóis na fita”; “nóis não tamo parado”; “nóis tamo aqui para zoar” (incomodar). Eles estão com seu comportamento rompendo as barreiras do apartheid social. É uma denúncia de um país altamente injusto (eticamente), dos mais desiguais do mundo (socialmente), organizado sobre um grave pecado social, poiscontradiz o projeto de Deus (teologicamente). Nossa sociedade é conservadora e nossas elites altamenteinsensíveis à paixão de seus semelhantes e, por isso, cínicas. Continuamos uma Belíndia: uma Bélgica rica dentro de uma Índia pobre. Tudo isso os rolezinhos denunciam, por atos e menos por palavras.

Em segundo lugar, eles denunciam a nossa maior chaga: a desigualdade social cujo verdadeiro nome é injustiça histórica e social. [...]. O “Atlas da Exclusão Social” de Márcio Poschmann (Cortez, 2004) nos mostra que há cerca de 60 milhões de famílias, das quais cinco mil famílias extensas detêm 45% da riqueza nacional. Democracia sem igualdade, que é seu pressuposto, é farsa e retórica. Os rolezinhos denunciamessa contradição. Eles entram no “paraíso das mercadorias” vistas virtualmente na TV para vê-las realmente e senti-las nas mãos.

Eis o sacrilégio insuportável pelos donos do shoppings. Eles não sabem dialogar, chamam logo a polícia para bater e fecham as portas a esses bárbaros. Sim, bem o viu T. Todorov em seu livro “Os novos bárbaros”: os marginalizados do mundo inteiro estão saindo da margem e indo rumo ao centro para suscitar a má consciência dos “consumidores felizes” e lhes dizer: esta ordem é ordem na desordem. Ela os faz frustrados e infelizes, tomados de medo, medo dos próprios semelhantes que somos nós.

Por fim, os rolezinhos não querem apenas consumir. Não são animaizinhos famintos. Eles têm fome sim, mas fome de reconhecimento, de acolhida na sociedade, de lazer, de cultura e de mostrar o que sabem: cantar, dançar, criar poemas críticos, celebrar a convivência humana. E querem trabalhar para ganhar sua vida. Tudo isso lhes é negado, porque, por serem pobres, negros, mestiços sem olhos azuis e cabelos loiros, são desprezados e mantidos longe, na margem.

Esse tipo de sociedade pode ser chamada ainda de humana e civilizada? Ou é uma forma travestida de barbárie? Esta última lhe convém mais. Os rolezinhos mexeram numa pedra que começou a rolar. Só pararáse houver mudanças.

JbOnline, 24/01/14

De acordo com o texto de Leonardo Boff, os rolezinhos podem ser traduzidos como um fenômeno:
A
econômico que suscitou uma reflexão social, no que tange às diferenças entre classes: são pobres que buscam seu espaço e seu direito de consumo, partindo de uma ideologia neoliberal
B
social brasileiro, representado por um grupo que vive à margem de serviços públicos de qualidade, assim se tornando indivíduos, forçadamente, invisíveis perante uma sociedade de consumo
C
social, carregado de ideologia de uma classe que não tem espaço na grande mídia e, por isso, clama visibilidade social e inclusão digital dentro de um modelo neoliberal de consumo brasileiro
D
econômico, recheado de preconceito por parte de quem o desqualifica, típico de regiões em expansão comercial, que deflagra a disparidade de poder de consumo entre as diferentes classes brasileiras