- Não vou escrever ab-rupto. De jeito nenhum! Pouco se me dá que o Scliar e o Assis Brasil
- defendam a reforma ortográfica, ab-rupto não escrevo. ninguém ia entender. Você sabe o
- que é ab-rupto? O mesmo que o velho abrupto! Por Deus! Ora, ninguém dirá abrupto se ler
- ab-rupto. O cara não pronuncia o bru. Fala: ab ruo , não vou colocar um quebra-molas no
- meu texto escrevendo ab-rupto. É abrupto. Pronto.
- Já estava meio irritado com a linguiça sem trema, no dia em que descobri esse negócio de ab-
- rupto. linguiça sem trema não é linguiça. Aquele gui a gente fala como o de enguiça. O meu
- amigo Languiça, por exemplo. Ele não é Languiça, mas, agora, quando escrever o apelido dele,
- muita gente vai achar que é. E o apelido perde a graça, porque o Languiça era Languiça por ser
- parecido com uma linguiça. Suprimindo o trema, o apelido era untado com uma ironia grosseira
- que se tornava hilária. Lá vai o Languiça, alguém dizia, e todo mundo dava risada. Agora, não.
- Sem a possibilidade do trema, o Languiça não é mais o mesmo. Pode ser um Languiça, o que não
- é nada engraçado.
- Aí o Assis Brasil vem e diz que escrever linguiça sem trema e abrupto separado torna a língua
- portuguesa mais visível. Ah, não! Prefiro que ela fique invisível, então.
- Certas regras a gente não deve cumprir. Outras são muito mais imperiosas, ainda que não
- sejam explícitas, escritas e acordadas entre autoridades e países, como é uma reforma
- ortográfica. Exemplo: as tais regras do Mercado. Não existem no papel, ninguém as redigiu, mas,
- quem não as cumpre, é punido com severidade.
- Nenhum dos condestáveis das letras legislou sobre as regras do Mercado, eles nem ligam para
- elas. Eu, sim. Eu as respeito. Já ab-rupto, nem se o Scliar e o Assis Brasil vierem aqui exigir, de
- dicionário em punho, ab-rupto eu não escrevo
Adaptado de: COIMBRA, David. Zero Hora, 4 fev. 2009, p. 44.
Considere as seguintes afirmações a respeito de convenções ortográficas da língua portuguesa.
I - As formas ab-rupto (I. 01) e abrupto (I. 03), citadas no texto, exemplificam o princípio de privilegiar o critério fonético (ou da pronúncia) em que se assenta a ortografia portuguesa.
II - A supressão do trema em palavras da língua portuguesa não impede que se pronuncie o "u" em palavras como linguiça (1.10).
III - A nova ortografia, vigente a partir de 1°. de janeiro de 2009, suprimiu o hífen do verbo inter-relacionar.
Quais estão corretas?