NECROLÓGIO DOS DESILUDIDOS DO AMOR
Carlos Drummond de Andrade
Os desiludidos do amor
estão desfechando tiros no peito.
Do meu quarto ouço a fuzilaria.
As amadas torcem-se em gozo.
Oh quanta matéria para os jornais.
Desiludidos mas fotografados,
escreveram cartas explicativas,
tomaram todas as providências,
para o remorso das amadas.
Pum, pum, pum adeus, enjoada.
Eu vou, tu ficas, mas nos veremos
Seja no claro céu ou turvo inferno.
Os médicos estão fazendo a autópsia,
dos desiludidos que se mataram.
Que grandes corações eles possuíam.
Vísceras imensas, tripas sentimentais,
E um estômago cheio de poesia...
Agora vamos para o cemitério,
levar os corpos dos desiludidos,
encaixotados competentemente,
(paixões de primeira e de segunda classe).
Os desiludidos seguem iludidos,
sem coração, sem tripas, sem amor.
Única fortuna, seus dentes de ouro
não servirão de lastro financeiro
e cobertos de terra perderão o brilho
enquanto as amadas dançarão um samba
bravo, violento, sobre as tumbas deles.
Referência Bibliográfica: ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia poética. 35. ed. Rio de Janeiro: Record, 1996.
Assinale a alternativa quanto a função representada na palavra em destaque presente na passagem retirada da poesia de Carlos Drummond de Andrade.
“As amadas torcem-se em gozo...”