Questão
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Assistente Social (Pref Itambé do Mato Dentro/MG)
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Bioquímico (Pref Itambé do Mato Dentro/MG)
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Cirurgião-Dentista (Pref Itambé do Mato Dentro/MG)
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Enfermeiro (Pref Itambé do Mato Dentro/MG)
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Especialista em Educação (Pref Itambé do Mato Dentro/MG)
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Farmacêutico (Pref Itambé do Mato Dentro/MG)
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Fisioterapeuta (Pref Itambé do Mato Dentro/MG)
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Fonoaudiólogo (Pref Itambé do Mato Dentro/MG)
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Médico Ginecologista (Pref Itambé do Mato Dentro/MG)
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Médico Pediatra (Pref Itambé do Mato Dentro/MG)
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Nutricionista (Pref Itambé do Mato Dentro/MG)
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Psicólogo (Pref Itambé do Mato Dentro/MG)
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Terapeuta Ocupacional (Pref Itambé do Mato Dentro/MG)
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Médico (Pref Itambé do Mato Dentro/MG)
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Milagre de papel

E então eles estacionaram seu carro de papel à beira daquele bosque de matéria-prima que era também o sustento dos dias, das semanas e dos meses. E o homem calmamente acendeu um cigarro, e a mulher descobriu umas coisas interessantes na montanha de celulose picada, e o casal de meninos parou de brigar, de repente, por causa de qualquer bobagem. Como não havia nada de novo no mundo, exceto aquilo de que já se esqueceu, aos pouquinhos, o sol infiltrou fantasias de hóstia envelhecida pelas copas das árvores e invadiu a avenida, se espelhando nas vidraças dos edifícios que ressonavam. Os primeiros motores roncaram pelas paredes. Então eles se acomodaram entre as caixas dos computadores, geladeiras, televisões e a infinidade de pedaços de papelão, plástico, barbante e isopor. E agradeceram a Deus pela humanidade jogar tanta coisa fora durante a noite, porque era sempre assim a via-salária: recolhiam o que dava pra fazer o dia espichar, até a hora de remendar o estômago.

Mas aquela manhã foi diferente, muito desigual das outras manhãs, porque então a mulher descobriu na montanha de celulose uma revista de decoração. E abriu as páginas de sua casa de dois andares cercada por jardins de buganvílias, samambaias e lanternas japonesas que caíam da varanda. E regou as begônias amarelas, as lágrimas-de-cristo que despencavam pelas cercas laterais e botou água com açúcar nas garrafinhas de beija-flor. Depois, já se imaginando um pouco cansada, deixou que seu corpo caísse sobre a rede de pano da costa com guirlandas brancas e sonhou que a vida era muito mais simples que um pedaço de maçã, uma chuva de verão ou uma cadela dando cria. Porém, como uma mulher nunca está onde mora, mas onde ama, ela chamou por ele. E juntos deitaram-se na grama.

E então ele entrou na casa, acendeu a lareira e os lustres da sala e ajeitou os quadros na parede e foi ver o quarto que ficava lá em cima, no final da escada em caracol. E, quando descobriu a cadeira de balanço ao lado da janela, abriu as cortinas para que o sol entrasse, e também se imaginou um pouco cansado.

Sentado, quietinho como um gato que sonha com ratos entre almofadas de veludo escarlate, ele cruzou as pernas e tragou da última fumaça, deixando que a preguiça estalasse os ossos naquele teto já recoberto de heras azuladas. E roeu, devagar, o tempo que vinha enferrujando a brisa meio gelada da avenida. Tossiu enroscado num viveiro de passarinhos imaginários. Cuspiu dois substantivos abstratos na calçada e, quando lambeu o pelo do silêncio para que a cidade acordasse, definitivamente, olhou nos olhos da mulher. E sorriu.

Como um homem nunca está onde ama, mas onde mora, ele chamou os meninos para que viessem conhecer os seus quartos, os brinquedos, a piscina azul com tobogãs no ar, a sala da TV e a cozinha. E fez um sacrilégio. Proibido por alguma dignidade que resistia não se sabe onde, tentou disfarçar o próximo passo. Não conseguiu. Simplesmente abriu a página da geladeira para os meninos, e escancarou, na frente dos olhos um desperdício de salame, muçarela, refrigerante, doce de leite, suco de laranja, abacaxi, melancia, carne assada, peito de frango, banda de porco, camarão, chocolate e batata frita.

Mas os meninos não atenderam ao seu chamado, porque também, naquela hora da manhã, haviam descoberto dentro da montanha de celulose outra montanha de gibis e histórias em quadrinhos. E o menino já avoava herói de si mesmo, soletrando super-homem essas palavras que passarinham fantasmas de batman-robin-hood-capitão-américa dentro dele, já durango kid de tanta estrepolia, com seus tesouros de papel. E a irmã mulher-maravilha, do mesmo modo, ficou saltitando bailarina de alegria florisbela, pateta, pato donald, tio patinhas, madame min. E escondeu do irmão algumas fotos de artistas da TV e outras coisas que havia por baixo da montanha, do outro lado, onde o pai já distribuía as ordens do dia.

E assim carregaram seu carro de papel com as descobertas daquela manhã. E foram para casa. Ali, debaixo do viaduto onde moravam, improvisaram tábuas, bateram pregos dentro de uma lata de querosene, prenderam arames no teto, e estava pronta a estante dos milagres. De tarde, a mulher regou as begônias e deu milho pras galinhas. O homem capinou as ervas da grama e fez uma casinha nova para o cachorro. Os meninos se lavaram. E quando a noite caiu sobre o viaduto, os quatro abriram a porta do castelo e acenderam a luz de uma mirrada lamparina.

Antônio Barreto - Folha de São Paulo – 18/6/2000.

A palavra ‘que’ é um pronome relativo em:
A
“Depois, já se imaginando um pouco cansada, deixou que seu corpo caísse sobre a rede de pano da costa com guirlandas brancas...”
B
“e sonhou que a vida era muito mais simples que um pedaço de maçã, uma chuva de verão ou uma cadela dando cria.”
C
“Como um homem nunca está onde ama, mas onde mora, ele chamou os meninos para que viessem conhecer os seus quartos, os brinquedos...”
D
“E o menino já avoava herói de si mesmo, soletrando super-homem essas palavras que passarinham fantasmas de batman-robin-hood-capitão-américa dentro dele...”