Mariana, mulher cisgênero, negra, 48 anos, recém-divorciada, mora com os três filhos, de 20, 15 e 12 anos de idade. Residente na periferia da cidade. Trabalhadora celetista admitida há 1 ano e meio no cargo de auxiliar de enfermagem em regime de plantão no hospital. Costumava dar plantões em outros hospitais ou cuidar de idosos para complementar renda. Compareceu ao serviço de saúde do trabalhador para o exame periódico com os resultados dos exames complementares solicitados, carteira de vacinação e muitas queixas. Na anamnese referiu que há cerca de 6 meses começou a apresentar cansaço intenso, desânimo, sentimentos de tristeza e angústia e perda de prazer em atividades rotineiras. “- Não tenho nem mais vontade de arrumar a casa que antes eu gostava de fazer”. Estava obesa. Relatou ter engordado 12 kg nos últimos 6 meses e tem sofrido com dificuldade para dormir, além de “ondas de calor” e dor lombar após esforço físico. Referiu ainda que estava se sentindo insegura com o risco de perder algum emprego. Raramente tinha tempo para atividades de lazer. Queixou-se de problemas no setor de Clínica Médica onde atuava devido à sobrecarga de trabalho – a equipe de enfermagem já reduzida, perdeu 2 trabalhadoras, uma afastada por “sequela de covid-19” e outra por “depressão”, e que “sempre alguém faltava”. Contou que havia outras colegas “nervosas e insatisfeitas” em relação a problemas na conformação da escala de trabalho. Segundo Mariana, a “chefe” organizava a rotina de trabalho sem consultar o restante da equipe e quando havia reclamação, costumava chamar as auxiliares de enfermagem de “descuidadas e preguiçosas” e que “não queriam nada com o trabalho”: “- Às vezes, ela fala em tom de brincadeira que eu sou a “nega maluca do serviço”, mas fico triste”, lamentou Mariana. Segundo a trabalhadora, outros profissionais, além da enfermagem, também reclamavam do serviço. Ultimamente houve um grande aumento de demanda por conta da epidemia de dengue e todos da equipe “pareciam esgotados”. Sua carteira de vacinação estava em dia, porém foi observado que a sorologia para hepatite B (anti-HBs) era negativa, não apresentando nível protetor após o esquema de vacinação completa feito na admissão. Perguntada sobre a ocorrência de acidentes com material perfurocortante e sobre o uso de EPI (Equipamentos de Proteção Individual), respondeu que os equipamentos estavam disponíveis e eram utilizados, mas que às vezes ocorria de alguém se machucar com agulha, inclusive ela. Em seu prontuário não havia registro de acidente de trabalho. Fazia uso de medicamentos para controle de dislipidemia e diabetes mellitus tipo II e apresentava nível pressórico e sinais vitais dentro da normalidade. Disse que não foi ao psiquiatra ou procurou psicóloga porque “não era maluca”.
Sobre o caso apresentado, redija um texto, com o mínimo de 50 linhas e o máximo de 150 linhas, respondendo aos questionamentos a seguir.
a) Quais os problemas identificados referentes às condições de trabalho de Mariana? Quais os tipos de riscos ocupacionais aos quais a trabalhadora estaria exposta?
b) Quais as condutas (individual e coletiva) que você sugeriria em relação às queixas/quadro clínico apresentados pela trabalhadora?
c) Quais as medidas preventivas específicas em saúde do trabalhador seriam indicadas nesse caso? Sobre a exposição a material biológico e o risco de acidente de trabalho, quais medidas de proteção individual e coletiva deveriam ser recomendadas?
d) Que outros fatores, além dos ambientais e relacionados aos processos de trabalho, poderiam estar afetando a saúde da trabalhadora?
e) Quais temas e atividades voltadas à promoção da saúde das/os trabalhadoras/es poderiam ser desenvolvidos (no setor/no hospital/na instituição) para enfrentar os problemas relacionados ao trabalho?