O MARIDO DO DOUTOR POMPEU
(Luiz Fernando Veríssimo)
Ninguém estranhou quando, depois de vinte e cinco anos de casamento, filhos criados, a mulher do Dr. Pompeu pediu divórcio. As razões dela eram normais para a época: não queria mais ser apenas uma dona de casa. Queria viver sua própria vida, estudar psicologia, ter sua própria carreira. Tudo bem. O escândalo, para mostrar como ainda existem preconceitos, foi quando souberam que o Dr. Pompeu em vez de outra mulher, arranjara um marido.
— Quem diria, hein? O Pompeu...
A própria mulher foi pedir satisfações:
— Pompeu, você enlouqueceu?
— Por quê?
— Todos estes anos, eu nunca desconfiei que você fosse... desses.
— Desses o quê?
— Você sabe muito bem. Um...
A mulher se calou porque nesse exato momento chegou em casa o marido do Dr. Pompeu. Um homem apenas um pouco mais velho do que ele, grisalho, ar respeitável. Um empresário de muito conceito.
— Alô... - disse o marido do Dr. Pompeu, um pouco constrangido.
— Oi – disse o Dr. Pompeu, alegremente.
— Boa tarde – disse a mulher, seca.
O marido do Dr. Pompeu foi tomar seu banho, ouvindo a promessa do Dr. Pompeu que o jantar estaria na mesa num instantinho. Quando a mulher ia recomeçar a falar, o Dr. Pompeu a deteve com um gesto.
— Não é nada do que você está pensando – disse.
— Que eu estou pensando, não, Pompeu. Que todo mundo está pensando.
— Nós temos um acordo. Eu cuido da casa para ele, supervisiono o trabalho das empregadas, faço as compras, faço tudo para que ele tenha uma vida doméstica organizada e feliz. Em troca, ele me sustenta. Não temos nenhum contato sexual porque nenhum de nós é, como você disse com tanta eloquência, desses.
— Mas, Pompeu...
— Eu não tenho do que me queixar. Meu padrão de vida melhorou. Ele me dá dinheiro para tudo que eu preciso. Inclusive, aliás, para pagar sua pensão. E hoje eu posso fazer o que sempre sonhei. Não trabalho, não me preocupo com as contas, com a segurança da família, com todas essas coisas de homem. E o melhor: quando tenho que descrever minha profissão, posso botar “Do lar”.
— Mas Pompeu!
— E agora me dá licença que preciso tratar do nosso jantar. Depois do jantar ele vê o Jornal Nacional e eu fico esperando a hora da minha novela. Passe bem.
(Disponível em: http://claudiapereira.multiply.com/journal/item/41/O_Marido_do_Dr._Pompeu. Acesso: 20/12/2011.)
Qual das análises, apresentadas nas alternativas a seguir NÃO constitui uma causa para o pedido de divórcio da mulher do Dr. Pompeu?