O adeus do golfinho

O baiji, mamífero que vivia no Rio Yang Tsé, na China, é considerado extinto

Desta vez, infelizmente, não se trata de um alerta sobre ameaça de extinção, mas do inapelável desaparecimento de um mamífero que existia há 20 milhões de anos: o baiji, o golfinho branco e quase cego que habitava o Rio Yang Tsé, na China. É o primeiro cetáceo – gênero que inclui o golfinho nariz-de-garrafa, a espécie do Flipper – a ser extinto nos tempos modernos. Durante um mês e meio, uma equipe formada por trinta cientistas de seis países percorreu 3.500 quilômetros do rio em dois navios em busca do animal. A expedição terminou há duas semanas e a espécie foi declarada extinta. "Pode ser que tenhamos perdido um ou dois animais durante as buscas, mas eles não têm a mínima chance de sobreviver", diz o economista suíço August Pfluger, fundador de uma ONG de pesquisas sobre o golfinho.

O baiji é a primeira espécie de mamífero aquático de grande porte a ser extinta desde a matança de focas-monge por caçadores no Caribe nos anos 50. Nas últimas décadas, o número de golfinhos brancos diminuiu na mesma velocidade em que a economia chinesa cresceu. O Rio Yang Tsé, que já foi comparado no passado ao Amazonas por sua biodiversidade, tem hoje uma espécie dominante: os 400 milhões de chineses instalados em suas margens. O estoque de peixes que servia de alimento para o baiji foi reduzido devido à pesca e à poluição do rio, e o ruído das hélices dos barcos passou a confundir os golfinhos, que se orientavam por sons para caçar os peixes nos bancos de areia. No fim da década de 80, existiam 400 baijis no Rio Yang Tsé.

Uma década depois, o número baixou para 100 e, em 1997, na última contagem, havia sido reduzido para treze.

Restam agora quatro espécies de golfinhos de água doce, três delas na Ásia e uma, o boto, na Amazônia. "Todas correm sério risco de desaparecer", diz o biólogo americano Zeb Hogan, pesquisador da National Geographic Society. As maiores ameaças, de acordo com Hogan, são a pesca predatória, a construção de barragens, a poluição e a destruição do habitat desses animais. "Se não forem adotadas medidas urgentes para proteger as espécies, haverá uma onda de extinção nas próximas duas décadas", diz ele.

 http://veja.abril.com.br/271206/p_084.html. Acessado em 07/03/2010

No último período do texto, o pronome ELE faz referência ao termo: