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Será a língua brasileira machista?
Alguns estudiosos afirmam ser a língua portuguesa machista e apresentam pelo menos duas razões para isso.
A primeira refere‐se ao fato de que se numa sala há uma multidão de mulheres e apenas um homem, a concordância se fará no masculino plural [...].
A segunda afirma que se uma pessoa quer agredir um homem, é a mãe dele que ela xinga; além disso, há nomes que, dependendo da flexão de gênero, são elogios para o homem e agressões à mulher: a um homem se pode chamar touro ou garanhão, mas chamar a mulher de vaca ou de égua é ofendê‐la.
À primeira vista esses argumentos parecem ter fundamento. Ledo engano.
Vamos, a princípio, nos ater à primeira afirmação.
No latim, língua da qual nosso idioma se origina, havia três flexões de gênero: masculino, feminino e neutro (o que ocorre na língua alemã e pode ser observado no inglês no uso do pronome it, usado, a grosso modo, para designar objetos e animais). Porém, com o passar do tempo, o gênero neutro do latim se perdeu e no português foi incorporado pelo masculino.
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Quanto à segunda afirmação sobre palavras que no gênero feminino seriam depreciativas, devo dizer que a língua se caracteriza pelos instrumentos gramaticais, e não pelo vocabulário. É a gramática que nos oferece instrumentos de composição de novos vocábulos. Portanto, quando o político e ex‐sindicalista Antônio Rogério Magri (1940) criou o famoso neologismo “imexível”, ele o fez utilizando recursos existentes na língua e o resultado foi perfeitamente compreensível, aceitável e de acordo com outras formações lexicais já existentes, como “ilegível”.
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É o uso que se faz de um vocábulo que o torna pejorativo ou não. Os instrumentos gramaticais são impostos ao falante, mas o vocabulário não.
Assim, quando um termo é utilizado de modo elogioso para o homem, mas agressivo ou depreciativo para a mulher, quem está sendo machista é o falante, e não a língua, pois a escolha das palavras é exclusivamente responsabilidade sua.
(CARVALHO, José Augusto. Gramática Superior da Língua Portuguesa. 2. ed. rev. Brasília: Theasaurus, 2011.)
Assinale a alternativa que apresenta corretamente o processo de formação do vocábulo “ilegível”.