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Os prejuízos de excluir mulheres de ensaios clínicos
A aspirina foi um dos primeiros medicamentos produzidos em laboratório e amplamente comercializados, ainda no final do século 19. Desde então, foram realizados milhares de testes que avaliaram sua eficácia para diferentes condições de saúde, como na prevenção do infarto. Só recentemente, porém, demonstrou-se que esse efeito não é o mesmo para homens e mulheres: entre elas, não houve redução no risco de sofrer um ataque cardíaco. A aspirina é apenas um dos muitos medicamentos utilizados há décadas e que não foram testados em mulheres em particular.
Tal negligência é agravada porque, a partir da puberdade, a prevalência de uso de medicamentos é maior entre o sexo feminino. Além disso, elas também apresentam cerca de duas vezes mais reações adversas às medicações do que os homens.
As mulheres foram excluídas ou sub-representadas nos ensaios clínicos durante décadas, com consequências históricas e prejuízos que ainda persistem. A talidomida, lançada por um laboratório alemão em 1956, tinha diversas indicações — podia atuar como sonífero, calmante e antiemético, ou seja, para controlar vômitos. Vendida sem prescrição médica e propagandeada como “sem riscos”, acabou sendo adotada por gestantes, para aliviar os enjoos típicos. A talidomida logo se tornou muito popular em 49 países, mas só depois de cinco anos se provou que ela provocava malformações fetais. Cerca de 10 mil bebês foram afetados, e metade não sobreviveu.
Embora a participação de mulheres em ensaios clínicos e até mesmo o uso de roedores fêmeas em testes experimentais tenha aumentado nos últimos anos, o cenário ainda é desigual: elas seguem sub-representadas em estudos de diversas áreas médicas, e algumas pesquisas não analisam os dados por sexo.
Tanta discrepância acarreta erros nos tratamentos, riscos elevados de efeitos adversos e até mesmo uma espera maior por diagnósticos, já que muitos sintomas foram estudados sobretudo em homens. Para proteger a saúde das mulheres, as especificidades delas não podem ser negligenciadas. Elas devem ser incluídas nos estudos clínicos desde o início, e as diferentes respostas entre os sexos precisam ser levadas em consideração.
(Rossana Soletti. Folha de S. Paulo. 08.12.2022)
Em “não houve redução no risco de sofrer um ataque cardíaco” (1º parágrafo), o termo destacado pertence à mesma classe de palavra que aquele destacado em: