Questão
2018
VUNESP
Prefeitura Municipal de Serrana (SP)
Professor PEB - Educação Infantil (Pref Serrana/SP)
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Leia o texto de Miguel Sanchez Neto, para responder à questão 

Chovia demais naquela manhã, uma chuva calma que molhava o piso de vermelhão da varanda da casa onde morávamos, naquela época já de aluguel. Uma casa velha de madeira, a varanda circundada pela mureta de alvenaria. A chuva alagando o território onde aquele que fui brincava de escorregar no piso. Depois, ao longo da infância, eu ia continuar preferindo estas brincadeiras em pisos molhados aos rios e às piscinas, sendo esta, inclusive, uma das razões de nunca ter aprendido a nadar.

Havia umas figurinhas de decalque a água, provavelmente presente de meu pai, e comecei a molhá-las no chão e transferi-las para a parede da casa. A chuva continuava seu trabalho lá fora, e eu fazia minhas pequenas mágicas, deixando inscrita nas paredes uma mensagem qualquer.

Não sei do que tratavam aquelas figurinhas, não me lembro nem da cor, nem da quantidade, nem da procedência, mas tudo isso não importa, o que marcou como minha primeira lembrança foi este ato primitivo de desenhar nas paredes da caverna, de deixar uma mensagem. Meus três anos não permitiam mais do que o ato vazio de tentar uma comunicação. Sozinho na varanda, a chuva a me isolar dos amigos e da família, a sensação de abandono me punha a escrever nas paredes, náufrago de um tempo lutando para estabelecer contatos.

Quem seria este interlocutor que o menino procurava?

Um amigo? Alguém da família? O pai sempre ausente, sempre fazendo negócios em outra cidade? As meninas que moravam na casa ao lado? Talvez todos, mas principalmente o adulto que a criança se tornaria. Essa criança queria falar comigo, por isso a imagem me ficou tão nítida na lembrança.

Há algumas cenas da rua que não consigo descrever. Mas a rua está perdida, lembro-me de um armazém grande numa esquina, a Casa Verde, de um portão que dava para um pátio, de algumas cercas de balaústres, e só. É melhor esquecer a geografia, ela não ficou arquivada em fotos – não tínhamos o hábito de fotografar.

(Chove sobre minha infância. Record, 2014. Adaptado)

De acordo com as informações do texto, é correto afirmar que 

A
o narrador, quando criança, lamentava a ausência do pai, embora reconhecesse que este trabalhava para manter a situação abastada da família. 
B
a chuva, ininterrupta por vários dias, obrigou o narrador a permanecer em casa, o que foi um sofrimento pois não podia sair e brincar com os amigos. 
C
a descrição do local onde ocorre a ação evidencia que o narrador morava em lugar afastado da cidade, o que intensifica sua permanente solidão. 
D
o narrador alega que o ato de preencher as paredes com as figurinhas que havia ganho era uma forma de se expressar, de tentar se comunicar. 
E
as brincadeiras de escorregar no piso molhado e colar figurinhas, ainda que habituais na infância do narrador, não impactaram sua vida adulta.