Questão
2010
MS CONCURSOS
Prefeitura Municipal de Piracicaba (SP)
Monitor de Informática (Pref Piracicaba/SP)
VER HISTÓRICO DE RESPOSTAS
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Leia atentamente o texto seguinte.

Religiosamente, pela manhã, ele dava milho na mão para a galinha cega. 
As bicadas tontas, de violentas, faziam doer a palma da mão calosa. 
E ele sorria. 
Depois a conduzia ao poço, onde ela bebia com os pés dentro da água. 
A sensação direta da água nos pés lhe anunciava que era hora de matar a sede; curvava o pescoço rapidamente, mas nem sempre apenas o bico atingia a água: muita vez, no furor da sede longamente guardada, toda a cabeça mergulhava no líquido, e ela a sacudia, assim molhada, no ar. 
Gotas inúmeras se espargiam nas mãos e no rosto do carroceiro agachado junto do poço. 
Aquela água era como uma bênção para ele. 
Como água benta, com que um Deus misericordioso e acessível aspergisse todas as dores animais. 
Bênção, água benta, ou coisa parecida: uma impressão de doloroso triunfo, de sofredora vitória sobre a desgraça inexplicável, injustificável, na carícia dos pingos de água, que não enxugava e lhe secavam lentamente na pele. Impressão, aliás, algo confusa, sem requintes psicológicos e sem literatura.
Depois de satisfeita a sede, ele a colocava no pequeno cercado de tela separado do terreiro (as outras galinhas martirizavam muito a branquinha) que construíra especialmente para ela. 
De tardinha dava-lhe outra vez milho e água e deixava a pobre cega num poleiro solitário, dentro do cercado.
Porque o bico e as unhas não mais catassem e ciscassem, puseram-se a crescer. 
A galinha ia adquirindo um aspecto irrisório de rapace, ironia do destino, o bico recurvo, as unhas aduncas. 
E tal crescimento já lhe atrapalhava os passos, lhe impedia de comer e beber. 
Ele notou essa miséria e, de vez em quando, com a tesoura, aparava o excesso de substância córnea no serzinho desgraçado e querido.
Entretanto, a galinha já se sentia de novo quase feliz. 
Tinha delidas lembranças da claridade sumida. 
No terreiro plano ela podia ir e vir à vontade até topar a tela de arame, e abrigar-se do sol debaixo do seu poleiro solitário. 
Ainda tinha liberdade — o pouco de liberdade necessário à sua cegueira. 
E milho. 
Não compreendia nem procurava compreender aquilo. 
Tinham soprado a lâmpada e acabou-se.
Quem tinha soprado não era da conta dela. 
Mas o que lhe doía fundamente era já não poder ver o galo de plumas bonitas. 
E não sentir mais o galo perturbá-la com o seu cocócó malicioso. 
O ingrato.

João Alphonsus – Galinha Cega. Em MORICONI, Italo, Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século. São Paulo: Objetiva, 2000.

Marque a alternativa correta de acordo com o que se infere do texto acima.
A
Na sentença “A sensação direta da água nos pés lhe anunciava que era hora de matar a sede”, o pronome “lhe” é referente ao verbo anunciava, sendo seu complemento verbal indireto ou objeto indireto. Aqui fica claro o destinatário da ação da expressão “matar a sede” No âmbito textual, “lhe” recupera o carroceiro que é dono da galinha e dedica a ela todos os cuidados essenciais para a sobrevivência da mesma.
B
Na sentença “A sensação direta da água nos pés lhe anunciava que era hora de matar a sede”, o pronome “lhe” é referente ao verbo anunciava, sendo seu complemento verbal indireto ou objeto indireto. Aqui fica claro o destinatário da ação do verbo “anunciar”. No âmbito textual, “lhe” recupera a galinha, a quem o carroceiro, seu dono, dedica todos os cuidados essenciais para a sobrevivência da mesma.
C
Na sentença “E tal crescimento já lhe atrapalhava os passos”, o pronome “lhe” é referente ao verbo atrapalhar, sendo seu complemento verbal indireto ou objeto indireto. Aqui o destinatário da ação do verbo “atrapalhar” não está clara. No âmbito textual, o pronome “lhe” recupera o carroceiro que é dono da galinha e dedica a ela todos os cuidados essenciais para a sobrevivência da mesma.
D
Na sentença “E tal crescimento já lhe atrapalhava os passos”, o pronome “lhe” é referente ao verbo atrapalhar, sendo seu complemento verbal direto ou objeto direto. Aqui o destinatário da ação do verbo “atrapalhar” está clara. No âmbito textual, o pronome “lhe” recupera a galinha, a quem o carroceiro, seu dono, dedica todos os cuidados essenciais para a sobrevivência da mesma.