Questão
2010
IPAD
Serviço Social do Comércio de Pernambuco
Professor II Séries Finais do Ensino Fundamental Ensino Médio Português (SESC PE)
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JC - Seu livro [A língua de Eulália] fala o tempo todo em "português padrão" e "português não-padrão". Como você explica estes conceitos?

Bagno - O português padrão é a língua falada pelas pessoas que detêm o poder político e econômico e estão nas classes sociais mais privilegiadas, que nós sabemos que são uma pequena minoria na população do Brasil, país que detém o triste recorde mundial de pior distribuição da riqueza nacional entre as camadas sociais.

JC - E quem fala o português não-padrão?

Bagno - O português não-padrão é a língua da grande maioria pobre e dos analfabetos do nosso povo. É também, consequentemente, a língua das crianças pobres e carentes que frequentam as escolas públicas. Por ser utilizado por pessoas de classes sociais desprestigiadas, marginalizadas e oprimidas pela terrível injustiça social que impera no Brasil, o português não-padrão é vítima dos mesmos preconceitos que pesam sobre essas pessoas. Ele é considerado "feio", "deficiente", "errado", "rude", "tosco", "estropiado", idéias que resultam da simples ignorância dos mecanismos que governam a língua não-padrão.

JC - E isso é grave para a educação?

Bagno - Gravíssimo. Esses preconceitos fazem com que a criança que chega à escola falando o português não-padrão seja considerada uma "deficiente" linguística, quando na verdade ela simplesmente fala uma língua diferente daquela que é ensinada na escola.

JC - Isso explicaria por que tantas crianças pobres acabam abandonando a escola?

Bagno - Em parte, sim, junto com os fatores econômicos que as obrigam a trabalhar muito cedo para ganhar a vida, impedindo-as de continuar na escola. Por serem desprezadas, por não terem seus direitos linguísticos reconhecidos como tais, por serem obrigadas a assimilar conceitos veiculados numa variedade de português que é estranha para elas, essas crianças não encontram nenhum estímulo para prosseguir seus estudos.

Trecho de entrevista de Marcos Bagno ao Jornal do Commercio, em 29 de outubro de 1998.

De acordo com o autor do Texto, um usuário da língua não-padrão, na escola:
A
tem seus direitos linguísticos reconhecidos.
B
 logo percebe que precisa usar a língua padrão.
C
 é discriminado e tratado como deficiente.
D
tem a oportunidade de ascender socialmente.
E
 é incentivado a nunca abandonar seus estudos.