Questão
2006
FCC
Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais
Oficial de Controle Externo (TCE MG)
VER HISTÓRICO DE RESPOSTAS
Ilhas-Minas-vo3790bd45292
Ilhas de Minas, no vôo das palavras

(...) Agora, você já viu coisa mais mineira, caligraficamente sutil e bonita como geografia, do que a ilha da Cabeça do M, junto ao cachoeirão do M, um M líquido, bordado em espuma cadente, inicial-resumo do santo nome de Minas? Do vértice do M cai a espumarada, a envolver de nuvens essa maior ilha de Minas, que é a própria Minas, tida como constelação de montanhas, mas por isso mesmo ilhada, alta ilha, ilha alterosa, a tamanha altura do nível do mar, ilha suspensa.

Ensandeço? Não. São as ilhas que subvertem a razão natural, interrompendo a continuidade do mundo. Elas se isolam orgulhosas ou prudentes. Mas vamos adiante. Se estamos no rio Doce, cheguemos à ilha irônica do Talaveira, do maturrango, do mau cavaleiro, do bisonho lidar com lavoura ou gado. Minas gosta de brincar com o imperfeito. E acha nomes engraçados para suas ilhas, como a da Pindaíba (ouço ainda a voz dos mais velhos: “Estou numa pindaíba danada.”), tem a dos Casados e a das Marias; a do Periquito e a do Alferes, não sei se homenagem a Tiradentes ou alusiva a um dono qualquer de uniforme. Tem a dos Estados, a dos Pombos, e das Antas e das Batatas e esta outra que faço questão de inventar uma história para ela: a ilha Lucrécia, tão bórgia! Onde príncipes, cardeais, assassinos e outros figurantes, entre eles, uma turma ilustríssima de poetas e artistas, se dedicam às mais diversificadas aventuras em torno dessa dama egrégia. Furo sensacionalíssimo de reportagem: Lucrécia, a magnífica, em Minas Gerais, numa ilha particular, tão particular que nela só pode ter acesso minha fantasia deste momento e você, se me der crédito e o prazer de acompanhar-me até lá...

Não, desisto de surpreender Lucrécia em sua ilha cativa. Minas é surrealista, concordo, mas sem exagero; conservo a justa medida das coisas, até no absurdo. Fiquemos por aqui, você e eu habitando em pensamento as ilhas que afloram em Minas, que enfloram Minas, essa ilha maior balançando no alto dos montes e serras...

(Carlos Drummond de Andrade. Prosa seleta. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003, p. 812.)

Agora, você já viu coisa mais mineira... (início do texto)

O verbo que exige o mesmo tipo de complemento que o do grifado acima está na frase:
A
Do vértice do M cai a espumarada...
B
... que é a própria Minas...
C
... que subvertem a razão natural...
D
Se estamos no rio Doce...
E
... cheguemos à ilha irônica do Talaveira...