IRMÃOS VILLAS BOAS
No início da década de 1940, o governo Getúlio Vargas temia que, devido à Segunda Guerra Mundial, colonos europeus se refugiassem no interior do país. Decidiu, então, que era hora de desbravar a região amazônica, até então quase que totalmente desconhecida. Com esse intuito, organizou a Expedição Roncador-Xingu, integrada principalmente por sertanejos incumbidos de “limpar” a floresta, recorrendo às armas ao menor sinal de enfrentamento. E, de fato, teriam dizimado diversos povos nativos não fosse a intervenção de três irmãos: Orlando, Cláudio e Leonardo Villas Boas.
Absolutamente contrários à violência, eles assumiram a liderança extra-oficial da expedição. Empenharam-se em convencer os sertanejos de que eram invasores e, como tal, deveriam se portar com ética e respeito. Mesmo quando foram recebidos a flechadas pelo povo Xavante, em 1944, não reagiram. Os contatos pacíficos só viriam dois anos depois, e foram estabelecidos com quatorze povos do Alto Xingu.
Os irmãos perceberam que seria impossível preservar a riqueza cultural desses povos caso fossem integrados à sociedade brasileira. Passaram a defender, então, a criação de reservas e parques indígenas fechados, que funcionassem como uma espécie de garantia de sobrevivência. A primeira iniciativa nesse sentido foi oficializada em 19 de abril de 1961, com a criação do Parque Nacional do Xingu, uma área de três milhões de hectares no Estado do Mato Grosso.
Durante muitos anos, os Villas Boas estiveram à frente do parque e implantaram medidas sanitárias para controlar epidemias devastadoras, como de sarampo e gripe. Também garantiram a proteção necessária contra a atividade garimpeira e madeireira.
Leonardo Villas Boas morreu ainda em 1961, mas os outros dois irmãos permaneceram na região até década de 1980. Quando morreram, Cláudio em 1998 e Orlando em 2002, os índios do Xingu promoveram o ritual Kuarup, só concedido aos mortos mais importantes da comunidade. Atualmente, vivem no parque cerca de 4 mil indígenas, de dezesseis povos.
(AMAZÔNIA:POVOS DA FLORESTA/ Alli, Sérgio-Sauaya,Thais- p. 48 - São Paulo-Ed. Salesiana. 2006.)
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