“Havia muitos destes indios pela Costa junto das Capitanias, tudo enfim estava cheio delles quando começarão os portugueses a povoar a terra; mas porque os mesmos indios se alevantarão contra elles e fazião-lhes muitas treições, os governadores e capitães da terra destruirão-nos pouco a pouco e matarão muitos delles, outros fugirão pera o Sertão, e assi ficou a costa despovoada de gentio ao longo das Capitanias. Junto dellas ficarão alguns indios destes nas aldêas que são de paz, e amigos dos portugueses. A lingua deste gentio toda pela Costa he, huma: carece de tres letras —scilicet, não se acha nella F, nem L, nem R, cousa digna de espanto, porque assi não têm Fé, nem Lei, nem Rei; e desta maneira vivem sem Justiça e desordenadamente. (...)Não ha como digo entre elles nenhum Rei, nem Justiça, sómente em cada aldêa tem hum principal que he como capitão, ao qual obedecem por vontade e não por força; morrendo este principal fica seu filho no mesmo lugar; não serve doutra cousa se não de ir com elles á guerra, e conselha-los como se hão de haver na peleja, mas não castiga seus erros nem manda sobrelles cousa alguma contra sua vontade. (...) Não adorão cousa alquma nem têm pera si que ha na outra vida gloria pera os bons, e pena pera os maos, tudo cuidão que se acaba nesta e que as almas fenecem com os corpos, e assi vivem bestialmente sem ter conta, nem peso, nem medida.”
O texto acima foi retirado do Tratado da Terra do Brasil, escrito pelo português Pero de Magalhães Gandavo (1540 – 1580). A partir do mesmo, podemos dizer que: