Formação do educador
Rubem Alves
Sonho com uma escola em que se cultivem pelo menos três coisas.
Primeiro, a sabedoria de viver juntos: o olhar manso, a paciência de ouvir, o prazer em cooperar. A sabedoria de viver juntos é a base de tudo o mais.
Segundo, a arte de pensar, porque é a partir dela que se constroem todos os saberes. Pensar é saber o que fazer com as informações. Informação sem pensamento é coisa morta. A arte de pensar tem a ver com um permanente espantar-se diante do assombro do mundo, fazer perguntas diante do desconhecido, não ter medo de errar porque os saberes se encontram sempre depois de muitos erros.
Terceiro, o prazer de ler. Jamais o hábito da leitura, porque o hábito pertence ao mundo dos deveres, dos automatismos: cortar as unhas, escovar os dentes, rezar de noite. Não hábito mas leitura amorosa. Na leitura amorosa entramos em mundos desconhecidos e isso nos faz mais ricos interiormente. Quem aprendeu a amar os livros tem a chave do conhecimento.
Mas essa escola não se constrói por meio de leis e parafernália tecnológica. De que vale uma cozinha dotada das panelas mais modernas se o cozinheiro não sabe cozinhar? É o cozinheiro que faz a comida boa mesmo em panela velha. O cozinheiro está para a comida boa da mesma forma como o educador está para o prazer de pensar e aprender. Sem o educador o sonho da escola não se realiza.
A questão crucial da educação, portanto, é a formação do educador. “Como educar os educadores?”
Imagine que você quer ensinar a voar. Na imaginação tudo é possível. Os mestres do vôo são os pássaros. Aí você aprisiona um pássaro numa gaiola e pede que ele o ensine a voar. Pássaros engaiolados não podem ensinar o vôo. Por mais que eles expliquem a teoria do vôo, eles só ensinarão gaiolas.
Desejamos quebrar as gaiolas para que os aprendizes aprendam a arte do vôo. Mas, para que isso aconteça é preciso que as escolas que preparam educadores sejam a própria experiência do vôo.
Adaptado de: <http://www.revistaeducacao.com.br/formacao-do-educador-coluna-rubem-alves/>. Acesso em: 27 jul. 2018.
Substituindo os termos em destaque na frase a seguir por pronomes, assinale a alternativa que atende à norma padrão da língua portuguesa.
Desejamos quebrar as gaiolas para que os aprendizes aprendam a arte do voo.