Questão
2005
INSTITUTO CONSULPLAN
Prefeitura Municipal de São Brás (AL)
Médico Plantonista (Pref São Brás/AL)
2005
INSTITUTO CONSULPLAN
Prefeitura Municipal de São Brás (AL)
Enfermeiro - PSF (Pref São Brás/AL)
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                                                                                FALAR, CALAR

       Hoje eu falo de silêncio. Eu, que amo as palavras, hoje fico nos espaços brancos e nas entrelinhas.
       Fico ausente, estou ausente embora de longe siga pelo milagre da tecnologia tudo o que acontece onde me lêem neste instante.
       Ausente-presente como tantas vezes tantas pessoas.
       Nas histórias que relato ou invento, hoje não me interessam tanto as tramas e os personagens: somos todos sombras que andam de um lado para outro, aparecem e desaparecem em quartos, corredores, jardins. Caem de escadas, jogam-se no poço, naufragam como rostos ou ratos.
       A mim seduzem palavras e silêncios, e jeitos de olhar. O formato de uma boca melancólica, ou o baixar de uma pálpebra que esconde o desejo de morrer ou de matar, ódio ou desamparo, hipocrisia, ah, o olhar sorrateiro, o estrábico olhar dos mentirosos.
       A mim interessam as coisas que normalmente ninguém valoriza. Porque o real está no escondido. Por isso escrevo: para esconjurar o avesso das coisas e da vida, de onde nos vem o medo, que impulsiona com a esperança.
       Nas relações amorosas, sou fascinada pela fração de segundo, o lapso mínimo em que os olhares se desencontram e a palavra que podia ter sido pronunciada se recolhe por pusilanimidade, egoísmo ou autocompaixão. E a cumplicidade se rompe e a gente se sente sozinha.
        O caminho do desencontro é ladrilhado de silêncios, quando se devia falar, e de palavras quando o melhor teria sido ficar calado: e a gente sabia, ah, sim, sabia. Pior: é ladrilhado de gestos que não foram feitos quando o outro tanto precisava.
        E no silêncio o peso da omissão, cumplicidade com o erro, se agiganta.

                                                                                                                                                                                                                                        Fragmento do texto de Lya Luft (Revista Veja)

“Por isso escrevo: para esconjurar o avesso das coisas e da vida, ...”. A palavra grifada pode ser substituída sem prejuízo do sentido, por: 
A
a fim de 
B
conforme 
C
como 
D
quando 
E
apesar de