Carmen Miranda: maior ícone pop do Brasil faria cem anos em fevereiro
Ela já nasceu única. Aqueles olhos faiscantes, emoldurados por sobrancelhas expressivas, que sambavam em cima da plateia. As mãos que voavam como passarinhos ariscos ao redor do turbante floral. Os quadris redondos, movendo-se ao som de uma batucada sensual, e a brejeirice impossível de ser ignorada. A voz ágil, cantando numa velocidade que desafiava os ouvidos do público. Como qualificar Carmen Miranda? Dizer que foi a primeira artista brasileira a alcançar reconhecimento internacional, preconizando o que somente Pelé e Paulo Coelho teriam no futuro, é pouco. Hoje, às vésperas do centenário de seu nascimento, em 9 de fevereiro de 1909, na pequena Marco de Canavezes, Portugal, dá para dizer que Carmen, portuguesa de nascimento, carioca de coração, foi pioneira numa conquista muito maior para o Brasil: ela se transformou num dos nossos maiores ícones pop - influência fundamental da Tropicália -, na Brazilian Bombshell, com imagem reconhecida em qualquer lugar do mundo
O talento e o carisma a fariam uma estrela de qualquer jeito, claro. Aos vinte e poucos anos, entre 1930 e 1939, já era a maior artista do show business nacional, recordista em gravações, vendas e salários. Mas, certamente, não teria alcançado o status de mito não fosse a fantasia de baiana e do personagem que criou com a ajuda fundamental de Dorival Caymmi. Ela até já cantava a Bahia pintada com as cores do mineiro Ary Barroso, autor de obras-primas como No tabuleiro da baiana (1936), Quando eu penso na Bahia (1937) e Na Baixa do Sapateiro (1938). Apesar disso, foi com O que é que a baiana tem? (1938), de Caymmi, que a baiana viajou para os Estados Unidos, onde foi cantar as graças que as pretas do acarajé faziam ao mercar seus bolinhos pelas ruas da antiga Salvador e acabou indo parar em Hollywood, onde atuou como a mulher mais bem paga de toda a história da indústria cinematográfica daquele país.
Dorival era um mulato manhoso de 24 anos, de pele cor de jambo, bigodinho alinhado, quando foi levado à casa de Carmen por Almirante, um dos seus compositores favoritos e amigo pessoal. Ela, que os recebeu com shortinho cavado, camisa amarrada na cintura, plataformas altíssimas e lenço na cabeça, pediu que ele cantasse. Ali, ao vivo, foi amor à primeira vista. Era a música que Carmen precisava desesperadamente para cantar em Banana da terra (1939), filme de Ruy Costa, porque Ary Barroso tinha resolvido cobrar caro para liberar Na Baixa do Sapateiro para o número baiano no filme.
Curiosa, ela perguntou o significado de todos aqueles termos estranhos, explicados por Caymmi nos mínimos detalhes. A bata, o torço, o pano-da-costa, os balangandãs... Ficou decidido que Caymmi a ajudaria a montar a fantasia e dirigiria sua coreografia durante a filmagem do número. Tudo isso pela quantia de cem mil réis (cinco dólares), valor 50 vezes menor do que o oferecido a Ary Barroso. Ele fez com todos os dengos ensinados: mãos ondulantes, braços abertos, revirar de olhinhos e referências aos detalhes da roupa. Compensou, porque, daí em diante, ele também ganhou um outro status.
Disponível em www.rasqueado.com.br/noticias/not_144.htm, acessado em 24/01/2009
Quanto ao primeiro parágrafo, assinale a alternativa correta.