Questão
2016
AOCP
Universidade Federal da Fronteira Sul
Técnico de Laboratório - Agronomia (UFFS)
2016
AOCP
Universidade Federal da Fronteira Sul
Técnico de Laboratório - Biologia (UFFS)
2016
AOCP
Universidade Federal da Fronteira Sul
Técnico de Laboratório - Física (UFFS)
2016
AOCP
Universidade Federal da Fronteira Sul
Técnico de Laboratório - Geotecnologia e Topografia (UFFS)
2016
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Universidade Federal da Fronteira Sul
Técnico de Laboratório - Hidrologia (UFFS)
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AOCP
Universidade Federal da Fronteira Sul
Técnico de Laboratório - Química (UFFS)
2016
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Universidade Federal da Fronteira Sul
Técnico em Tecnologia da Informação (UFFS)
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Universidade Federal da Fronteira Sul
Técnico em Agropecuária (UFFS)
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Universidade Federal da Fronteira Sul
Técnico em Alimentos e Laticínios (UFFS)
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AOCP
Universidade Federal da Fronteira Sul
Técnico em Química (UFFS)
2016
AOCP
Universidade Federal da Fronteira Sul
Técnico em Telefonia (UFFS)
2016
AOCP
Universidade Federal da Fronteira Sul
Tradutor e Intérprete da Linguagem de Sinais (UFFS)
2016
AOCP
Universidade Federal da Fronteira Sul
Técnico de Laboratório - Análises Clínicas (UFFS)
2016
AOCP
Universidade Federal da Fronteira Sul
Assistente em Administração (UFFS)
Bons-dias-Machado622da14ab4b
Bons dias!

(Machado de Assis - publicada em 21 de janeiro de 1889)


Vi não me lembra onde...

É meu costume; quando não tenho que fazer em casa, ir por esse mundo de Cristo, se assim se pode chamar à cidade de São Sebastião, matar o tempo. Não conheço melhor ofício, mormente se a gente se mete por bairros excêntricos; um homem, uma tabuleta, qualquer coisa basta a entreter o espírito, e a gente volta para casa “lesta e aguda”, como se dizia em não sei que comédia antiga.

Naturalmente, cansadas as pernas, meto-me no primeiro Bond que pode trazer-me a casa ou à Rua do Ouvidor, que é onde todos moramos. Se o Bond é dos que têm de ir por vias estreitas e atravancadas, torna-se um verdadeiro obséquio do céu. De quando em quando, para diante de uma carroça que despeja ou recolhe fardos. O cocheiro trava o carro, ata as rédeas, desce e acende um cigarro: o condutor desce também e vai dar uma vista de olhos ao obstáculo. Eu, e todos os veneráveis camelos da Arábia, vulgo passageiros, se estamos dizendo alguma coisa, calamo-nos para ruminar e esperar.

Ninguém sabe o que sou quando rumino. Posso dizer, sem medo de errar, que rumino muito melhor do que falo. A palestra é uma espécie de peneira, por onde a ideia sai com dificuldade, creio que mais fina, mas muito menos sincera. Ruminando, a ideia fica íntegra e livre. Sou mais profundo ruminando; e mais elevado também.

Ainda anteontem, aproveitando uma meia hora de Bond parado, lembrei-me não sei como o incêndio do club dos Tenentes do Diabo. Ruminei os episódios todos. Entre eles, os atos de generosidade tinham parte das sociedades congêneres; e fiquei triste de não estar naquela primeira juventude, em que a alma se mostra capaz de sacrifícios e de bravura. Todas essas dedicações dão prova de uma solidariedade rara, grata ao coração.

Dois episódios, porém, me deram a medida do que valho, quando rumino. Toda a gente os leu separadamente; o leitor e eu fomos os únicos que os comparamos.

Refiro-me, primeiramente, à ação daqueles sócios de outro club, que correram à casa que ardia, e, acudindo-lhes à lembrança os estandartes, bradaram que era preciso salvá-los. “Salvemos os estandartes!”, e tê-lo-iam feito, a troco da vida de alguns, se não fossem impedidos a tempo. Era loucura, mas loucura sublime. Os estandartes são para eles o símbolo da associação, representam a honra comum, as glórias comuns, o espírito que os liga e perpetua.

Esse foi o primeiro episódio. Ao pé dele, temos o do empregado que dormia na sala. Acordou este, cercado de fumo, que o ia sufocando e matando. Ergueu-se, compreendeu tudo, estava perdido, era preciso fugir. Pegou em si e no livro da escrituração e correu pela escada abaixo.

Comparai esses dois atos, a salvação dos estandartes e a salvação do livro, e tereis uma imagem completa do homem. Vós mesmos que me ledes sois outros tantos exemplos de conclusão. Uns dirão que o empregado, salvando o livro, salvou o sólido; o resto é obra de sirgueiro. Outros replicarão que a contabilidade pode ser reconstituída, mas que o estandarte, símbolo da associação, é também a sua alma; velho e chamuscado, valeria muito mais que o que possa sair agora’ novo, de uma loja. Compará-lo-ão à bandeira de uma nação, que os soldados perdem no combate, ou trazem esfarrapada e gloriosa.

E todos vós tereis razão; sois as duas metades do homem, formais o homem todo... Entretanto, isso que aí fica dito está longe da sublimidade com que o ruminei. Oh! Se todos ficássemos calados! Que imensidade de belas e grandes ideias! Que saraus excelentes! Que sessões de Câmara! Que magníficas viagens de Bond! Boas noites!

De acordo com as ideias contidas no texto, assinale a alternativa correta. 
A
O narrador tem o costume de, quando não tem o que fazer em casa, “ir por esse mundo de Cristo”. Para ele, não há melhor ofício, exceto quando se mete por bairros excêntricos.
B
O trecho “Naturalmente, cansadas as pernas, meto-me no primeiro Bond” corrobora a ideia de que os passeios do narrador são realizados integralmente por esse meio de transporte
C
No período “Eu, e todos os veneráveis camelos da Arábia, vulgo passageiros, se estamos dizendo alguma coisa, calamo-nos para ruminar e esperar”, o vocábulo destacado poderia ser corretamente substituído por “meditar” ou “refletir”. 
D
Ao comentar o incêndio ocorrido no club dos Tenentes do Diabo, a intenção principal do narrador é expressar a sua tristeza “de não estar naquela primeira juventude, em que a alma se mostra capaz de sacrifícios e de bravura”. 
E
No oitavo parágrafo, em “Ao pé dele, temos o do empregado que dormia, na sala”, o item destacado confirma a ideia do narrador de que o primeiro episódio narrado é mais importante do que o segundo, haja vista que estar aos pés, nesse contexto, expressa a noção de ser inferior.