O BAILE DOS ASTERISCOS
(Luis Fernando Veríssimo)
Você certamente já conhece a piada do ponto que tentou entrar no baile dos asteriscos e foi barrado na porta.
— O baile é só para asteriscos.
— Mas eu sou um asterisco!
— Você é ponto.
— Sou asterisco. É que eu uso gel.
O que você talvez não saiba é que este não foi o único incidente na entrada do baile. O travessão também tentou enganar o porteiro dizendo que era uma limusine com asterisco dentro. O ponto, decidido a passar por asterisco, não desistiu e pediu a um amigo:
— Me dá um susto, rápido!
Não entrou. A vírgula já tinha convencido o porteiro de que era um asterisco de cabelo liso, mas o rabo de fora foi sua perdição:
— Está bem, disse o porteiro, mas o gato não entra.
O acento circunflexo alegou que era parte de um asterisco e que o resto chegaria depois. Não levou. As reticências e o trema se juntaram e tentaram intimidar o porteiro pelo seu número, mas também não entraram. O ponto de exclamação tentou ganhar do porteiro no grito, inutilmente. Mas o pior foi o ponto de interrogação que quis dar um carteiraço:
— Não está me reconhecendo? Eu sou o Itamar Franco!
Só a bobagem nos salva.
(VERÍSSIMO, Luís Fernando. Comédias da Vida Pública. - Porto Alegre: 10. Ed. - L&PM, 1996. Adaptado.)
O objetivo principal desse texto é