Até 2050, a expectativa de vida dos brasileiros, hoje de 71,7 anos, deve aumentar em uma década, conforme o IBGE, alcançando um índice semelhante ao dos japoneses (que, por sua vez, terão atingido uma expectativa de 85 anos). No passado, devia-se a curva ascendente da longevidade sobretudo a progressos básicos, como o acesso universal a vacinas ou à água tratada. A ascensão dos próximos anos será produzida por um fenômeno muito mais complexo – o progresso da medicina em novos campos, como o da prevenção de doenças pela análise do DNA, cirurgias até agora tecnicamente impossíveis e pesquisas para determinar com precisão o papel da má alimentação no surgimento de certas doenças.
O “papy boom”, nome dado ao choque demográfico que o envelhecimento da população provocará nos próximos anos (numa contraposição ao “baby boom” pós-II Guerra Mundial), terá um impacto ainda não equacionado na economia, afetando o futuro dos sistemas de aposentadoria. Se é difícil imaginar como a sociedade sustentará os futuros aposentados, é bem mais fácil prever a situação de saúde que eles terão: estarão em condições físicas bem melhores do que as gerações anteriores. Festejar o centésimo aniversário, privilégio atualmente de apenas 0,01% da população brasileira, será regalia para uma parcela bem maior em 2050. Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde, o número de centenários no mundo chegará a 2,2 milhões, quinze vezes mais do que o registrado atualmente. O Brasil deve alcançar a nona posição nesse ranking.
É justamente entre os centenários que pesquisadores vêm descobrindo lições preciosas a respeito dos fatores decisivos para uma vida prolongada e saudável. O papel da genética está cada vez mais bem estabelecido. Os estudos indicam que, até os 80 anos, muitos fatores individuais influem na longevidade; depois dos 80, a genética é fundamental. A biologia molecular tem ajudado a entender a predisposição de algumas pessoas a desenvolver doenças que afetam a saúde e a longevidade. Entretanto, a chave do envelhecimento bem-sucedido, com qualidade de vida, não está na ausência de doenças e, sim, na preocupação que o indivíduo tem com a manutenção do bem- estar desde a idade adulta.
(Adaptado de Roberta Viganó, Veja, 25 de outubro de 2006, p. 144-146)