Aprovar quem não aprendeu?
1. A angústia de decidir se devemos aprovar quem não sabe torna-se assunto secundário, diante da constatação de que o aluno não aprendeu. Esse é o drama mais brutal do ensino brasileiro. Por isso, a discussão está fora de foco. Precisamos fazer com que os alunos aprendam. De resto, não faltam idéias nos países onde a educação dá certo. Por exemplo, na Finlândia – e mesmo no Uruguai – há professores cuja tarefa é dar uma atenção especial aos mais fracos. Por que se digladiam todos contra a "promoção automática", quando a verdadeira chaga é o fraco aprendizado? De fato, há uma razão. Grosso modo, três quartos da população brasileira é definida como de "classe baixa". Dada essa enorme participação, o que é verdade para seus membros é verdade para o Brasil como um todo. Mas há os 20% de classe média e alta. Para esses pimpolhos, a situação é diferente. Famílias de classe baixa são fatalistas, assistem passivamente à reprovação dos seus filhos. Se não aprenderam a lição, é porque "sua cabeça não dá". Já na classe média a regra é outra. Levou bomba? Antes zunia a vara de marmelo, depois veio o confisco da bola, da bicicleta ou do iPhone. Santo remédio!
2. Reina a "pedagogia do medo da repetência". Essa é a arma dos pais para que o filho se mantenha por longo tempo colado à cadeira e com os olhos no livro. Cá entre nós, eu estudava por medo da bomba. É também a ameaça da bomba que permite aos professores forçar os alunos a estudar. Sem ela, sentem-se impotentes. Portanto, estamos diante de um dilema. O medo da repetência leva a minoria de classe média a estudar, para evitar os castigos. Pode não ser a pedagogia ideal, mas ruim não é. Já nas famílias mais modestas não há medo nem pressão para que os filhos estudem. O que há são as bombas caindo do céu e criando repetência abundante e disfuncional. Pouquíssimos países no mundo têm níveis tão altos de repetência como o nosso. Ao contrário de outros dilemas, esse tem solução clara, ainda que difícil. Basta melhorar a qualidade da educação para todos.
CASTRO, Cláudio M. Veja, 17 de dezembro de 2008 (com adaptação)
Leia os fragmentos abaixo e considere as afirmações feitas acerca dos mesmos:
1. “Há professores cuja tarefa é dar uma atenção especial aos mais fracos”. (Substituindo o verbo haver por existir, a concordância verbal permaneceria a mesma).
2. “Três quartos da população brasileira é definida como de classe baixa”. (O verbo ser poderia ir para o plural sem ferir a norma padrão).
3. “É também a ameaça da bomba que permite aos professores forçar os alunos a estudar. Sem ela, sentemse impotentes.”. (A partícula se refere-se à “ameaça da bomba).
4. “Já nas famílias mais modestas não há medo nem pressão para que os filhos estudem”. (O marcador circunstancial já equivale ao operador argumentativo “por outro lado”).
5. “Cá entre nós, eu estudava por medo da bomba”. (A expressão sublinhada revela a tentativa do autor de persuadir o interlocutor).
Estão corretas: