1º Era uma vez um rei que gostava muito de caçar. Naqueles tempos, os reis deixavam, como hoje, que os ministros governassem; mas aproveitavam o tempo que assim ganhavam, para caçar ou fazer guerra aos vizinhos. Eram estes os seus esportes prediletos. Em certo dia, o rei projetou uma caçada em floresta longínqua. Chamou o Ministro do Tempo, que era assim uma espécie de diretor do departamento de Meteorologia, e perguntou:
2º – Vai chover?
3º O ministro fez os salamaleques da pragmática e respondeu:
4º – Vossa Majestade pode partir tranquilo para a sua expedição. Para que os reais prazeres de Vossa Majestade não sejam estragados, o tempo se manterá firme. Não choverá.
5º E o rei partiu confiante, com a sua garrida comitiva, para dizimar os javalis da floresta longínqua. Em meio da estrada, encontrou um caipira humilde, que vinha montado num burrinho, a caminho da cidade, para vender suas quitandas. O homem apeou-se depressa, para prostrar-se no pó, a esperar que passasse a companhia real, como devem em todos os tempos, fazer os pagadores de impostos em face dos poderosos. Mas o rei estava de bom humor e, querendo honrar o seu humilde súdito com uma palavra graciosa, perguntou-lhe, por desfastio:
6º – O tempo está firme?
7º – Com perdão de Vossa Majestade, o tempo vai virar. Vem muita água.
8º O rei desatou a rir da ignorância do rústico, e foi adiante. Mal havia, porém, chegado à fímbria da floresta, quando o céu veio abaixo, numa dessas nuvens torrenciais que fazem a gente se lembrar de Noé e sua arca.
9º Molhadinho até o osso, a espirrar e fungar, coberto de lama, o rei voltou furioso. Antes mesmo de meter as reais pernas na tina do escalda-pés, despachou o Ministro do Tempo degredado para uma Fernando de Noronha qualquer. Depois de bem agasalhado, tendo tomado um chá de canela e alguns cálices de certo precioso licor de limão, mandou procurar o caipira que lhe anunciara a chuva. Foi o homem encontrado e trazido, todo trêmulo, à real presença. Disse-lhe o rei:
10° – Você vai ser o meu Ministro do Tempo, porque foi você que previu que ia chover. Você é um sábio muito esperto.
11º – Com perdão de Vossa Majestade, o esperto não sou eu. É o meu jumento. É ele quem sabe o tempo que vai fazer.
12º O rei quis explicações, e o homem deu-as:
13º – Quando o meu burrinho põe as orelhas para a frente, é certo que vai chover; quando as põe para trás, o tempo está firme; e quando troca as orelhas, tudo pode acontecer.
14º O rei não teve dúvidas. Mandou lavrar o decreto pelo qual o burro foi nomeado Ministro do Tempo. E com isto fez a desgraça de seu reino, porque desde esse dia todos os jumentos do país se julgaram aptos a ocupar altos cargos na administração pública.
Acerca da acentuação das palavras retiradas do texto, informe (V) se é verdadeira ou (F) se falso e, em seguida, assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de cima para baixo:
( ) As palavras “pragmática” e “dúvidas” recebem acento por serem
proparoxítonas.
( ) As paroxítonas “sábio” e “água” são acentuadas porque terminam em ditongo.
( ) A mesma regra de acentuação que vale para “pés” vale também para “até”.
( ) A palavra “país” é acentuada porque o “i” é tônico de hiato.